quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Este Blog Está Falindo

Última postagem de 2014.
Era uma vez um cara que achava que escrevia bem e que podia ficar muito rico com isso. Mas com o tempo, ele descobriu que cometera um duplo engano. O primeiro deles, foi quando constatou que não escrevia tão bem assim. E o segundo, consequência do primeiro, é que não iria enriquecer através da pena na mão.
O cara dessa pequena história sou eu mesmo, e não vim aqui para me lamentar, mas sim para fazer um balanço do blog após o final de mais um ano de sua existência. Numa publicação futura, pretendo narrar em maiores detalhes o surgimento do blog. Mas, por enquanto, me limitarei a falar dos números do Pra Gente Rir, atualizado até a data desta publicação.
O Pra Gente Rir foi fundado por Kily no dia 2 de Julho de 2011. A fundação do blog consistiu na posse do domínio “pragenterir”. A imagem abaixo é uma relíquia que mostra um diálogo via messenger entre Kily e Boretti, na ocasião da fundação do blog.


Logo após este fato, Boretti recebeu poderes de administrador do blog, tendo os mesmos poderes que o criador, para administrar, postar e excluir postagens da página. Posteriormente, R também foi incluído como administrador do brógui.
Contando com esta publicação, até o momento foram realizadas um total de 89 publicações, sendo que 60 delas foram realizadas por Kily, 23 por Boretti e 6 por R¹. A seguir, um quadro ilustrativo apresenta o primeiro indício de que este blog está falindo. Veja:

Ano
Nº de Publicações
2011
39
2012
27
2013
14
2014
9

Repare no quadro mostrado que o número de publicações vem caindo a cada ano. E isso tem várias possíveis causas. A primeira hipótese é de que nós pseudoblogueiros não temos inspiração para escrever algo digno de ser publicado. A segunda delas, é que com o passar dos anos e com o rumo que nossas vidas tomaram, temos cada vez menos tempo para escrever. A terceira, e provavelmente a mais verdadeira de todas, é que descobrimos que não podemos ganhar a vida como blogueiros, portanto o custo x benefício de nos empenharmos na escrita mostra que não vale a pena o esforço. E é com base nessa terceira hipótese que eu lhes apresento mais uma informação que confirma o título desta postagem, de que este blog está falindo: nós tentamos angariar fundos para sustentar o blog e consequentemente pagar as pensões alimentícias de nossos respectivos filhos, através do recurso do Google Adsense. E até o momento, arrecadamos a ridícula importância de US$3,20. A seguir, uma imagem que não me deixa mentir a respeito do que estou falando.



Uma terceira evidência da iminente falência deste empreendimento é que o número de visitas ao blog teve um pico impressionante pouco tempo depois de sua criação. Pico este que desapareceu alguns meses depois, deixando os proprietários do blog na nostalgia do sucesso de antanho, agora substituído pelo desprezível número de visitantes do blog, que, suponho eu, na maioria entram nele por engano, e permanecem na página por um período inferior ao que leva para uma ejaculação precoce.


E um último número, é que este blog conta hoje com incríveis três seguidores, conforme podem ver no lado direito desta página. --->
Mas apesar do brógui estar falindo, apesar da falta de tempo, de motivação, de inspiração e de retornos financeiros, eu pretendo continuar tocando o barco, mantendo esse blog para a minha meia dúzia de fãs. Que, aliás, nem são tão fãs assim. Afinal, nem um deles morreria se esse blog encerrasse suas atividades. Sendo assim, então por que continuarei com ele? Bem, nem eu sei também. Eu acho que é porque este foi um blog feito pra gente rir.
Felis 2015.



¹ Notem ainda que a última publicação realizada por Boretti foi no dia 11/11/2012, com o texto TCC. R está em maior débito ainda com o blog, não publicando desde o dia 30/11/2011, com o texto A Morte. O blog está numa decadência tão grande que R já me confessou que nem ele mesmo entra mais em nossa página. Espero que leiam isso e criem vergonha na cara, seus dois bostas!

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Chaves

Faz alguns meses que decidi escrever um texto sobre o seriado Chaves no meu blog. Mas, devido à correria do dia-a-dia, ao cansaço e até mesmo à preguiça, acabei procrastinando, e por fim desistindo. Hoje, recebi a triste notícia da morte de Roberto Gómez Bolaños, o Chespirito, Pequeno Shakespeare, apelido dado a ele por conhecidos, devido a sua genialidade.

Ele partiu hoje, depois de uma vida extremamente produtiva, deixando sua marca por onde passou. A eternidade física é uma ilusão, mas acredito que Bolaños alcançou a imortalidade em seus personagens, pois sua obra continuará viva em minha lembrança e em meu coração.

Em homenagem a esse brilhante mexicano, que conquistou muita gente com a sua obra e com seus personagens, decidi que devia ressuscitar essa publicação. Se eu puder ter só um pouquinho daquele talento para fazer esta homenagem, já me sentirei realizado.

Obrigado, Chespirito!





CHAVES

Sou um fã da obra de Roberto Gómez Bolaños. Mesmo sabendo todas as falas de antemão e já conhecendo as piadas manjadas dos episódios, ainda sou capaz de me deliciar assistindo Chaves, Chapolin, Dr. Chapatin, Chaveco, Don Caveira e Pancada Bonaparte. Tenho uma sensação de paz quando estou vendo um episódio do Chespirito.

Na internet, a série Chaves é alvo de inúmeras discussões. Discussões estas que envolvem acontecimentos ao longo dos episódios, como erros de gravações que foram ao ar, incongruências entre informações dos personagens, traduções brasileiras e muitas outras curiosidades. São inúmeros os fóruns de discussão sobre esses temas. E a seguir, tentarei trazer a minha contribuição sobre alguns fatos (que considero) curiosos relacionados à série. Afinal, acho que são esses debates levantados que geram todo o imaginário que permeia Chaves e faz dela uma série que vem atravessando gerações e fazendo parte da infância de milhões de pessoas.

Então, passemos as curiosidades.



1 – O filme do Pelé

Quem não se lembra do episódio Vamos ao Cinema, em que toda a turma da vila vai pegar um filminho? Fora o microfone que acidentalmente aparece nas cenas do cinema, eu quero destacar outro fato desse episódio. Se eu perguntar para várias pessoas o que tem de mais marcante no episódio, provavelmente ouvirei delas que é o Chaves resmungando diversas vezes a frase “seria melhor ter ido ver o filme do Pelé”. Fiquei me questionando, qual seria esse filme do Pelé que O Menino do Oito se referia nesse episódio. Não cheguei a uma resposta, mas descobri algumas coisas interessantes.

A primeira delas, é que no episódio original, o qual assisti para escrever este post, o Chaves não faz nenhuma alusão ao Rei do Futebol, o que seria bem estranho mesmo, já que a série é mexicana. O filme que ele cita é outro. Na versão original, o Chaves refere-se ao filme El Chanfle. Pra quem não sabe, El Chanfle é um filme estrelado pelo mesmo elenco que compõe o seriado Chaves. Como se sabe, Chespirito tinha esse hábito mesmo de entrelaçar suas obras, umas nas outras. Quem não se lembra do Seu Madruga lendo o gibizinho do Chapolin Colorado? Portanto, o filme citado na versão original, nada mais é do que o próprio filme escrito e estrelado Bolaños.

A segunda descoberta interessante diz respeito ao próprio Pelé. Pra quem não sabe, o Edson já atacou de ator também, produzindo algumas pérolas no cinema nacional e internacional. Dentre elas, Edson participou de um filme brasileiro, Pedro Mico, mas por algum motivo, teve sua voz dublada pelo Milton Gonçalves. Será que ele é tão ruim ator assim?

Outra pérola do Edson é no filme Os Trombadinhas, em que ele fez uma cena que quase lhe rendeu o Óscar de Melhor Ex-Jogador de Futebol em Longa-Metragem. A cena a qual eu me refiro pode ser visualizada clicando aqui.

Bom, mas estou me desviando do objetivo desse texto para curiosidades sobre o Pelé. Voltemos ao tema principal do texto. Conjecturas à parte, não se sabe o que se passava na cabeça da galera do estúdio de dublagem da série no Brasil, quando decidiu citar o filme do Pelé no episódio do cinema. Provavelmente, jamais saberemos qual era o filme do Pelé que o Chaves preferia ter ido ver. O que sabemos, é que se todos os filmes do Pelé são um lixo, misericórdia do filme que eles estavam assistindo naquele cinema...



2 – A esquina

Já repararam na quantidade de pontos comerciais que ficam na esquina da Vila? A barbearia onde o Seu Madruga trabalhou ficava na esquina. O tão sonhado sanduíche de presunto que o Chaves queria comprar ficava na esquina. E o restaurante que a Dona Florinda assumiu ficava onde? Adivinhe? Se você respondeu “na esquina”, você acertou!

Além disso, a esquina também já abrigou um terreno baldio, que foi mostrado no episódio em que as crianças iam lá jogar futebol (não o nosso, mas o americano). Não se sabe se o terreno baldio fica na mesma esquina ou em outra, mas é provável que fique em outra.

Essa quantidade de pontos comerciais na esquina me levou a pensar no quão ruim é aquele ponto comercial. E em como o poder público investe pouco no comerciante. Devem ter feito uma mandinga das bravas naquele lugar, quem sabe a Bruxa do 71 não lançou um feitiço no antigo proprietário do imóvel, por não corresponder ao seu amor platônico? Estava bom de chamar um padre pra exorcizar aquele lugar, quem sabe até com o mesmo padre que ouviu a confissão do Chaves quando ele foi embora da vila por acharem que ele era um ladrão.



3 – Que Bonita Sua Roupa

No episódio Uma Aula de Canto, foi cantada uma das músicas mais famosas do Chaves, Que Bonita Sua Roupa. Sobre esta música, é interessante, em primeiro lugar, identificar que na versão mexicana, o título da música é Que Bonita Vecindad. Vecindad é uma palavra espanhola que pode ser traduzida como vizinhança. Mas a vizinhança em português virou “sua roupa”. Mais uma salva de palmas para os tradutores do seriado.

A coreografia da música é tão simples, que não precisa ser nenhum Michael Jackson para replicá-la, nem a ajuda do coreógrafo Fly. Entretanto, um possível erro na dança do pessoal da Vila é discutido até hoje. Tal erro é discutido, para saber de quem seria a culpa, e o que de fato teria acontecido no momento da gravação. Clique aqui para assistir ao clipe e acompanhar a discussão a seguir.

Com 1:30, Seu Madruga ri olhando em direção aos bastidores, movimento uma das mãos e dando um passo, como se deixando de dançar. A seguir, ele volta a coreografia. Entretanto, alguns segundos antes, pode-se perceber que os pulos do Mestre Linguiça estão dessincronizados em relação aos pulos dos demais personagens. Os defensores de Don Ramón o eximem de culpa nisso, atribuindo-a a Ruben Aguirre, o Professores Jirafales. Apesar do possível erro na coreografia, o episódio foi ao ar desse jeito, para curiosidade geral. E a maior curiosidade de todas consiste no fato de haver pessoas discutindo esse tema até hoje.



4 – Números estranhos

Mesmo Chaves tendo mais de mil episódios, incluindo esquetes, em todos os episódios em que Seu Madruga participa, sua dívida de aluguel com o Seu Barriga continua a mesma: 14 meses de aluguel. Seu Madruga jamais ficou devendo 13 ou 15 meses. Lembrem-se ainda que, num episódio, o Seu Madruga paga pelo menos um mês de aluguel. Mas ele continua devendo quartorze.

E por falar em quatorze, esse é o número da casa da Dona Florinda. O número da casa da Dona Clotilde é 71 e a da casa do Seu Madruga é 72. Qual é a lógica da numeração das casas na Vila? E será que podemos dizer que na Vila tem pelo menos 72 casas? Além das três casas em maior evidência, sabe-se ainda que tem a número 8, onde mora o Chaves, a 24, que fica subindo as escadas ao lado do barril do Chaves, onde já moraram Glória e Paty, mas também Jaiminho e Chiquinha, nas últimas temporadas. Só que, no Festival da Boa Vizinhança, os expectadores do espetáculo dirigido por Seu Madruga não chega a 20 gatos pingados (incluindo o Seu Barriga e o Mestre Linguiça, que nem ali moram).



5 – Seu Madruga

O Seu Madruga já deixou bem claro que não suporta ser acordado às 11 da madrugada. Aliás, porque Don Ramón em português ficou Seu Madruga?

Voltando a ideia inicial, todo mundo fala que o Seu Madruga é vagabundo, que não é muito dado ao trabalho, que é caloteiro, não paga o aluguel. Contudo, ele trabalhou num extenso hall de profissões que daria inveja em muita gente. Já vi o Seu Madruga trabalhando de marceneiro, barbeiro, pedreiro, jardineiro, boxeador, fotógrafo, professor de violão, vendedor de balões, vendedor de churros, terapeuta (conselheiro sentimental do Jirafales) além de já ter sido eventualmente diretor de Festival da Boa Vizinhança e de ter dado uma aula para a turminha que deixou a metodologia pedagógica do Professor Jirafales no chinelo.

Além de todos esses trabalhos, o Seu Madruga é um exemplo de homem, que disse algumas das frases que marcaram minha infância. Posso dizer que ele foi o primeiro filósofo que entrei em contato na minha vida. Encerro esta sessão com algumas de suas célebres frases:

A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena.

As pessoas boas devem amar seus inimigos.

Não existe trabalho ruim. O ruim é ter que trabalhar.



6 – A menina da escola

Num dos episódios que se passam na escola, um acontecimento muito estranho ainda me deixa com muitas dúvidas (link). Vou me limitar a descrever as falas da versão brasileira, embora haja diferença para a versão mexicana. O Professor Jirafales pergunta para a classe se alguém pode dizer o nome de tribos brasileiras. Uma menina, até então figurante, responde “os tamoios”. Todos olham espantados para ela. Logo em seguida, ela acrescenta: “posso ir ao banheiro?”. E o Professor Jirafales responde: “sim, Iara, sim”. E eis que a menina, após dizer essas seis palavras, levanta-se e sai da sala. E nunca mais aparece na série, em nenhum outro episódio.

Mais estranho ainda é o burburinho que fica na sala após a saída dela, principalmente a fala da Pópis, que diz, com sua voz fanha: “ih, menina, você viu? Eu nunca vi um negócio desses, que temperamental, hein? Você viu só? E se fosse eu o professor ia dar uma tremenda bronca”. Completamente sem sentido. A única coisa que consegui apurar sobre esta cena, é que a atriz que interpretou Iara foi Angélica María.



Concluindo...

Eu tenho muita coisa pra falar ainda, como as referência épicas na versão brasileira a Pedro de Lara, Maitê Proença e muitas outras. Mas isso vai ficar, quem sabe, para outra oportunidade. Essas curiosidades foram inspiradas em minha própria experiência com a série. Algumas coisas foram inspiradas no vídeo do Danilo Gentili sobre o Chaves, embora outras, que são parecidas, foram mera coincidência. É com um sentimento de tristeza, mas também de profundo carinho por tudo o que Chespirito produziu e chegou até mim, que encerro esta postagem.





segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Perguntas Frequentes

Todas as vezes que eu vou para Piraju nas férias, eu sou obrigado a ouvir várias perguntas repetidas, e respondo várias vezes cada uma delas, para diferentes pessoas que visito quando estou por lá. E em todas as férias, são praticamente as mesmas santas perguntas. Pensando nisso, com o intuito de evitar de ter que responder as mesmas perguntas sempre que eu for para Piraju, e em todas as casas e famílias que eu for visitar, eu decidi criar um panfleto informativo, o qual distribuirei para todas as pessoas assim que eu chegar em suas respectivas casas¹.

A ideia é que cada vez que eu viajar para A Ilha, eu atualizarei as respostas (no caso de algum dado ter ser tornado obsoleto), mudando o design do panfleto, de modo a parecer que consiste num panfleto totalmente novo, com perguntas e respostas diferentes.

A seguir, apresento o modelo que estou pensando em utilizar para o meu panfleto informativo, com alguns comentários a serem apresentados no final deste texto:

FAQ – Perguntas Frequentes

Pergunta: E aí, como que tá Brasília?
Resposta: A mesma bosta de sempre.

Pergunta: E cê já viu a Dilma pessoalmente?
Resposta: Vejo a Dilma pessoalmente com a mesma frequência que você a vê pessoalmente.

Pergunta: E o custo de vida lá de Brasília? Eu fiquei sabendo que é alto...
Resposta: Sim, o custo é bem alto. Mas não sei se “de vida” é a melhor locução adjetiva a ser utilizada nesse contexto, porque aquilo lá não é vida, não!

Pergunta: É, eu ouvi na "rádia" que a cidade lá é bem perigosa e violenta, é verdade isso? Não sei se você sabe, mas Piraju anda bem violenta também...
Resposta: NÃO, você não faz ideia do que é uma cidade perigosa. Eu vou te contar um segredo: PIRAJU NÃO É UMA CIDADE PERIGOSA! Você realmente quer acreditar que os perigos aos quais os brasilienses e os pirajuenses estão suscetíveis se equiparam em magnitude, MAS ELES NÃO SE EQUIPARAM! Tire essa ideia ridícula da sua cabeça, porque isso me ofende profundamente, principalmente quando me lembro dos cagaços que eu frequentemente passo em Brasília. Aposto que você não passa nem um décimo aqui em Piraju, do que eu passo lá no Distrito Federal.

Pergunta: E como que tão os estudos lá?
Resposta: Vão bem, está corrido, mas tá tudo bem.

Pergunta: Quanto tempo que falta pr’ocê se formar?
Resposta: Não sei também, boa pergunta...

Pergunta: Ué, mas cê tá em qual semestre?
Resposta: Cronologicamente, no sexto. Curricularmente, mais ou menos no quarto. Mentalmente (devido ao cansaço), no vigésimo.

Pergunta: E o que que cê tá fazendo mesmo?
Resposta: Eu faço Psicologia.

Pergunta: Ah, então... cê que é psicólogo, me tira uma dúvida...²
Resposta: Primeiro, eu não sou psicólogo, eu apenas faço faculdade de Psicologia, o que não significa que eu saiba alguma coisa sobre os seres humanos.

Pergunta: E quando cê se formar, cê vai abrir um consultório? Vai dar desconto pros parentes? (risos)
Resposta: Olha, sinceramente, eu não pretendo abrir consultório, não.

Pergunta: Ué, então pra que que cê tá estudando Psicologia?
Resposta: Boa pergunta...

Pergunta: E cê pretende trabalhar como psicólogo mesmo, ou como psiquiatra?
Resposta: Só psicólogo, eu faço Psicologia. PSI-CO-LO-GI-A. A Psiquiatria é uma especialidade da Medicina, portanto, só quem faz Medicina pode se especializar nessa área.

Pergunta: Viu, e são quantas horas de viagem de Brasília até aqui?
Resposta: São 15 horas até Ouro Pequeno³. De lá eu ainda tenho que pegar outro ônibus para Piraju.

Pergunta: E a namorada? Quando que cê vai trazer ela pra gente conhecer?
Resposta: Quando der.

Pergunta: E por que que ela não veio dessa vez?
Resposta: Porque não deu.

Pergunta: E esse cabelo e essa barba? Quanto tempo faz que cê não corta?
Resposta: O cabelo, uns cinco anos. A barba, cinco meses.

Pergunta: E por que que cê num corta? Cê fez promessa?
Resposta: Não sei também. Não, eu não fiz promessa.

Pergunta: E até quando que cê vai ficar por aqui?²+²
Resposta: Até a primeira semana do mês que vem, porque logo depois começam as aulas.

Pergunta: E como é o seu nome mesmo?
Resposta: ¬¬”


¹ Quero deixar bem claro que não estou culpando as pessoas por perguntarem sempre as mesmas coisas. Essa é uma curiosidade típica da natureza humana, e é meio óbvio que, dada a minha história de vida, as perguntas seguirão mais ou menos o mesmo caminho. Meu objetivo é simplesmente fazer uma piada com este fato um pouco incômodo – mas tolerável – da minha vida.
² As reticências indicam que o que importa aqui é este típico começo, que mostra que a pessoa pretende fazer uma pequena “consulta” comigo, achando que os meus três anos de faculdade são suficientes para eu sanar alguma curiosidade que ela tem.
³ Ouro Pequeno é a carinhosa nomenclatura que um amigo meu deu para a cidade de Ourinhos, onde ele vive. É a ela que eu faço alusão nessa resposta.
²+² Existe uma variação dessa pergunta, essa sim muito mais ofensiva: “E quando que cê vai embora?”. Nesta variação, percebe-se claramente que meu interlocutor demonstra certa nota de urgência de ver Piraju livre da minha impertinente presença.

sábado, 4 de outubro de 2014

Kylli

- Ah, que bonitinho o seu cachorro! Qual é o nome dele?

- O nome dele é Kily.

- Nossa! Por que pôs o nome dele de assassino?

Pois é, já faz mais de quatro anos que alguém que foi muito importante na minha vida morreu. Eu me refiro ao Kily, o meu cachorro. Um grande amigo que tive e que me acompanhou do final da minha infância, por toda a minha adolescência, até eu passar num concurso público aos dezoito anos.

Uma coisa que sempre me irritou muito foi o fato das pessoas confundirem o nome do meu cachorro. Elas sempre achavam que o nome dele era Killer, aí sim, assassino em inglês. Pelo menos, era esse nome que a secretária do Banho e Tosa agendava para o banho quando eu telefonava para lá.

Quando as pessoas não erravam o nome (dizendo Killer, Billy ou Millie), elas erravam a grafia dele: Kili, Killi, Kyli, Kylli, Kyly, Kylly, Kylie, Kyllie, Kyle, Kylle, Kile, Kille, Kilie, Killie, Quili, Quilli, Quily, Quilly, Quilie, Quillie, ou, a grafia que mais me irritava (por ser mais recorrente): Killy.

Bom, felizmente, o meu dog não se incomodava com isso. A culpa era do dono dele, que pôs esse nome estúpido nele. Não tão estúpido quanto o nome anterior que os antigos donos deram para ele e que eu decidi não manter: Preto e Tiziu.

Acho que devo contar de onde tirei esse nome. Tirei ele do álbum da Copa do Mundo de 2002, onde tinha um jogador da seleção da Argentina que se chamava “Kily” González. Obviamente, Kily era um apelido do Sr. González. Entretanto, eu achei tão simplesmente sublime a combinação daquelas quatro letras para formar um nome, que eu tomei uma decisão: quando eu tivesse um cachorro, ele se chamaria Kily. Quando eu tivesse um gato, ele se chamaria Kily. Quando eu tivesse um filho, ele se chamaria Killy. E, quando eu tivesse um carro, é claro, ele se chamaria Christine.

Resumindo a história: foi por isso que o Kily se chamou Kily. E é por isso que depois que o Kily foi pro céu dos cachorros e eu criei esse blog, o meu pseudônimo ficou sendo Kily, porque é o nome mais sublime atrás do qual eu me sinto à vontade para me esconder e escrever minhas baboseiras. E é pelo mesmo motivo que este era o meu Nick no bate-papo Uol e no Chatroulette. E Kily será o nome de todos os cachorros machos que eu tiver daqui em diante, sendo acrescidos apenas de um número ou um adjetivo: Kily II, Kily VIII, Kily, o Justo, Kily, o Manso.

Portanto, quando lerem um texto meu, e um personagem se chamar Kily, saibam que eu tenho um enorme carinho por essa criação da minha cabeça.


Mas, apenas um pedido: quando forem se dirigir a mim, escrevam Kily. K-I-L-Y. Por favor, não errem a combinação de letras.

Uma foto do saudoso Kily.

sábado, 7 de junho de 2014

Café-com-leite

Este foi o primeiro texto que produzi estando na UnB. No horário de almoço do dia 04 de junho de 2014, sem nada para fazer, apesar de ter um monte de coisa para estudar, durante uma ligação cotidiana para minha namorada, a ideia surgiu. Escrevi e fui ditando o que escrevia para ela ao telefone, enquanto ela ria da história. Naturalmente, os dois últimos parágrafos, em que falo dela, foram escritos depois que desliguei o telefone.

Dicionário Pra Gente Rir
Café-com-leite: s.m. 1. Indivíduo temporária ou permanentemente desprovido de habilidades cognitivas e motoras, que o torna merecedor da condescendência dos demais em jogos infantis. 2. Fracassado, perdedor. 3. Loser. 4. Bebida composta de café, ao qual é acrescido o leite. 5. Café-com-leite (1).

Uma xícara da bebida homônima.


Café-com-leite

Não, eu não me refiro à bebida, mas sim a expressão “café-com-leite”. Afinal, quem nunca na vida foi café-com-leite? Todo mundo um dia já foi café-com-leite, e alguns continuam sendo até hoje, como minha namorada.

Quando eu era criança – eu ia dizer quando eu era pequeno, mas eu ainda sou pequeno – e ia brincar de pega-pega ou de alguma outra brincadeira com primos e vizinhos, acontecia de aparecer o meu irmão mais novo, em início de fase de socialização, querendo brincar também. Só que ele era totalmente incompetente para seguir regras, e sem nenhuma habilidade motora para brincar.

Eu e meus amiguinhos olhávamos uns para os outros quando ele aparecia querendo brincar, trocávamos aquele ar cúmplice de tristeza, não querendo aquele pirralho na brincadeira. Só que, irmãos mais novos têm uma enorme habilidade de ir correndo para os pais reclamar por algo e conseguir que sua queixa seja atendida – SEJA ELA QUAL FOR!

Caillou brincando com sua irmã café-com-leite.

Meu irmão corria pra minha mãe aos berros. Minha mãe imediatamente deixava de conversar com outros adultos, e olhava para meu irmão, achando que ele tinha quebrado as duas pernas, ou cortado um dedo com a faca, ou ainda sido estraçalhado pelo cachorro. Quando mamãe via que estava tudo bem, ela perguntava pro chorão do meu irmão:

- O que aconteceu, menino?

E com voz infantil e engrolada pelo choro, meu irmãozinho astutamente respondia, sabendo ser certo que sua queixa seria ouvida:

- É que o Kily não deixa eu brincar de pega-pega com ele e os amigos dele.

Alguns segundos depois de eu proibir meu irmão de brincar com a gente, tão logo ele se queixava para minha mãe, eu ouvia um enorme grito de minha mãe, me chamando, brava. Eu ia até ela com o rabo entre as pernas:

- Me chamou, mamãe?

E minha mãe dizia, num tom bravo e autoritário:

- O seu irmão disse que você não quer deixar ele brincar de pega-pega com vocês! Que negócio é esse? Pode já deixar seu irmão brincar também!

- Mas mãe, ele não sabe brincar de pega-peg...

- Não interessa! Pode deixar ele brincar! – antes mesmo que eu terminasse minha defesa, minha mãe já tinha lido as provas, dado a sentença e o veredicto.

Voltávamos para o meio das outras crianças, eu, cabisbaixo, e meu irmão, todo sorridente, porque ia brincar com a gente. Ou, achava que ia brincar...

Felizmente, nós crianças fomos muito espertas e criamos uma norma de convivência interna, que ficou nacionalmente conhecida como Política do Café-com-Leite (isso não tem nada a ver com o período homônimo da história brasileira). Nos países de língua inglesa, o termo é conhecido como Coffee with Milk Political (exceto na Inglaterra, onde ninguém toma café, mas sim chá, por isso o termo é conhecido como Tea without Sugar Political).


Um cappuccinaço, coletivo contendo várias pessoas cafés-com-leite


A Política do Café-com-Leite consiste no seguinte: para atender às exigências inquestionáveis dos adultos, as crianças deixam a criança menor brincar com elas. Pelo menos nas aparências. O que os adultos, nem essa criança menor sabem, é que ela não está brincando de verdade. Ela só está ali no meio, tal qual um quero-quero num meio de um campo de futebol, que figura no cenário do jogo, mas que não participa dele efetivamente. Para que a Política do Café-com-Leite entre em vigor, basta que uma das crianças, de preferência o irmão, no caso eu, que estou rejeitando meu irmão menor, diga em alto e bom som para que todas as demais crianças escutem: “o Juninho é Café-com-Leite”. A expressão café-com-leite já subentende no mundo infantil que aquela criança só está brincando junto com as demais no universo dela. Mas no mundo real, ela está brincando sozinha.

Aí eu fico me lembrando de quantas vezes eu vi a carinha do meu irmão, todo feliz, brincando de pega-pega, porque ele nunca estava “pego”, ele nunca perdia, ele era a melhor do jogo, estava sempre ganhando. Coitado, nem sabia que o pessoal estava era ignorando ele. Era como se o pobrezinho nem estivesse ali. Corria para um lado e para o outro com um sorriso estampado no rosto, esbanjando alegria. Quando a criança que estava pega corria na direção dele mas passava reto (porque na verdade estava perseguindo outra criança), ela se achava, pensava que tinha sido mais rápido e tinha conseguido despistar a atenção da outra criança. Que bobão!

Uma variação da política do café-com-leite também é útil para se utilizar com os irmãos mais novos, quando se está jogando vídeo game e a mãe ou o pai entra no nosso quarto brigando porque o irmão mais novo foi chorando contar que não deixamos ele jogar. Aí, nesse caso, não é preciso invocar a política do café-com-leite em voz alta. Basta entregar o controle para o irmãozinho jogar, e dizer que ele é o personagem principal do jogo (ou que ele é o outro time, em caso de jogos de futebol). A grande sacada dessa adaptação, é que o controle é entregue para o irmão DESCONECTADO do vídeo game. Aí o inocente vai ficar achando que são as irregulares e desajeitadas ações dele no controle que provocam as ações do personagem na tela da televisão. Mais uma vez, o irmão mais novo vai achar que está abafando no jogo. E ainda por cima, depois vai dizer que pra todo mundo que zerou o game. E no caso, ele realmente zerou. Não fez nenhum ponto...

Irmão jogando vídeo game com o irmão caçula café-com-leite.


Ao escrever este texto, fiquei pensando nas pessoas que até hoje parecem que são cafés-com-leite. Eu vejo uns estudantes tão perdidos na sala-de-aula, que tenho minhas dúvidas do porque eles estão aqui. Às vezes eu imagino o professor dizendo num tom de voz um pouco mais baixo, no início da aula, antes daquele aluno que sempre chega atrasado chegar: “olha pessoal, o Fulano vai chegar daqui a pouco, e ele pensa que ele faz parte da aula, mas ele é café-com-leite, tá? Ele vai fazer todas as provas, mas não ta valendo nada, combinado? Se eles caírem no seu grupo no dia trabalho, coloquem o nome dele, que na hora de corrigir eu considero só o nome dos demais que realmente fizeram o trabalho, porque o Fulano é café-com-leite”.


Yamcha, o café-com-leite master do Dragon Ball.


Togepi, o café-com-leite do reino Pokémon.

As pessoas sem saberem, adotam a política do café-com-leite em seu cotidiano. Quando mendigos vêm pedir dinheiro, ou vendedores ambulantes ou nos ônibus vêm vender seus produtos, ou ainda malabaristas fazem sua arte no semáforo e os ignoramos acintosamente, estamos tecnicamente dizendo que essas pessoas são café-com-leite também. É algo cruel de se pensar, mas é a realidade.

Além disso, eu uso a política do café-com-leite até hoje, com minha namorada. Quando nós vamos discutir a nossa relação, eu finjo que estamos discutindo de verdade, mas na verdade ela é café-com-leite. Então, quando cada um de nós aponta o que quer que o outro mude ou melhore na relação, só ela quem vai mudar, porque eu não me lembro de nada do que ela falou. E quando estou jogando vídeo game também, e ela sempre aparece pedindo pra jogar junto comigo, pra nos divertirmos juntos tentando zerar o jogo? Aí é mais complicado. Nesse caso eu faço o seguinte: nós jogamos o game juntos, e ao final da partida, salvo o nosso ridículo progresso (quando há algum) no memory card do vídeo game. Só que, o que ela não sabe, é que eu tenho um memory card reserva escondido, e é neste outro que eu salvo o jogo que eu jogo para valer, tentando zerar.

Existem inúmeras outras aplicabilidades da política do café-com-leite para minha namorada. Não vou citar todas porque não quero me estender muito neste texto. Os exemplos já foram suficientes para mostrar como esse conhecimento que adquiri na infância ainda é muito útil na minha vida.

Um café-com-leite que superou seus limites e venceu na vida.


Sheldon identificando mais um loser, evolução de um café-com-leite.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Copa do Mundo

O nome do mascote da Copa do Mundo de 2014, Fuleco, já
parece anunciar o lugar onde todos os brasileiros irão tomar nesta Copa.



Estamos em contagem regressiva para o início da Copa do Mundo de 2014 aqui no brasil¹. E eu prometi para mim mesmo que faria uma publicação sobre o tema quando faltasse exatamente um mês para o início da Copa. Não se engane o leitor, que aqui não fala nenhuma reacionário que odeia futebol. Pelo contrário, eu sou um apaixonado por Copa do Mundo, adoro a oportunidade que me é oferecida a cada quatro anos, de poder assistir a jogos de seleções que raramente tenho a oportunidade de verem jogar entre si. Entretanto, não estou aqui para falar de futebol. Aliás, esta provavelmente será a Copa do Mundo que menos acompanharei, desde a Copa de 98, quando comecei a assistir. E o motivo é bem simples: não tenho televisão. Se eu tivesse TV e tempo, eu assistiria a todos os jogos que pudesse. Estou financeiramente desfavorecido este ano, que também quebrarei uma segunda tradição em minha vida desde a Copa de 98: não comprarei o álbum da Copa, não trocarei cromos, nem me divertirei com essa brincadeira quadrienal.

Bom, minha vida mudou muito de quatro anos pra cá. Há quatro anos, eu era funcionário público, tinha uma vida estável, morava com minha mãe e minha irmã, em casa tinha televisão e, sim, eu fui de camiseta laranja pro trabalho quando a Holanda eliminou o brasil nas quartas-de-final da Copa da África do Sul, em 2010. Atualmente, não disponho do mesmo luxo, não sou mais funcionário público, agora moro sozinho, não tenho nem o básico para uma casa, quem dirá uma televisão. E também, estou na universidade, não tenho tempo disponível para ver jogos, preciso estudar para ser alguém na vida.

Então, vamos ao teor desse texto. Não vim aqui para criticar a seleção. Até porque, para criticar a seleção, eu preciso dizer de qual seleção estou falando. Se for a Seleção, com S maiúsculo, que já virou sinônimo nacional de “seleção brasileira”, essa seleção aí eu espero mesmo que se lasque e passe uma vergonha enorme nessa Copa. Se dependesse de mim, o brasil perderia os três jogos da fase de grupos e aquele sujeitinho chamado Neymar seria uma grande decepção. O que francamente, duvido muito que vá acontecer, dado que eu acho que o Jorge Kajuru estava certo quando disse que essa Copa já estava vendida para o brasil ganhar...

Bom, já pus as cartas à mesa, já disse que acho a Copa uma das coisas mais legais do mundo, se pudesse assistiria aos 64 jogos, mas não posso. Mas eu não vim aqui para falar do EVENTO ESPORTIVO Copa do Mundo, e sim das POLÍTICAS relacionadas a Copa do Mundo.

Não sei de tudo o que aconteceu até aqui, portanto apenas ilustrarei com alguns argumentos, mas tenho certeza que se você procurar na internet, achará muito mais coisas além das que eu citarei aqui. Antes de dar meus exemplos, vou dizer genericamente o que eu penso da Copa. Se isto fosse uma Redação do Enem², essa seria a minha tese, o parágrafo inicial, pra quem estudou a formulazinha de redação do certame. Nos demais parágrafos, defenderei minha ideia. Então vamos lá.

Eu acho que essa Copa do Mundo, em termos de brasil, é uma das coisas mais ignominiosas que já aconteceram nesse país. Eu francamente sinto vergonha de ser brasileiro e de fazer parte de país tão cretino como o nosso, claramente me referindo aqui aos governantes que nos representam diante do mundo. É desonroso tudo o que aconteceu envolvendo a Copa, passando desde a construção dos estádios, licitações realizadas de forma sub-reptícia, desapropriação de comunidades, supostas pacificações de comunidades cariocas – mas com interesses políticos escusos -, até soberania nacional colocada a prova em detrimento das exigências da FIFA e muito mais. Mas assim eu estou apenas divagando, vamos a alguns exemplos que eu prometi, para concluir a minha crítica.



A – Estádios, elefantes brancos e superfaturamentos
Uma das promessas feitas sobre a Copa, é que a maior parte dos recursos utilizados para toda a preparação de infra-estrutura para o evento seria financiado por dinheiro privado. Ao poder público, pouco dinheiro caberia injetar nesta parte do projeto, sendo este reservado para o investimento de obras cuja competência é exclusiva do Estado, tais como saúde, transporte e segurança. Entretanto, hoje já podemos ver que essa foi uma mentira escandalosa, já que a maior parte do dinheiro investido veio dos cofres públicos. E provavelmente, muito desse dinheiro foi pingando de bolso em bolso, dando uma discrepância entre receita e dinheiro realmente investido.

Além disso, grande parte dos estádios superfaturaram suas obras (não sei exatamente se todos, então prefiro não incorrer em uma falsa afirmação). Prometeram gastar X, mas no fim das contas gastaram muito mais do que o orçamento inicial. E em alguns estados, os estádios se tornaram sinônimo de “elefantes brancos”, estádios que quase não terão uso futebolístico, dado que em muitos estados não existem equipes de grande expressão no futebol nacional. Por exemplo, em Brasília, onde eu moro, o Estádio Mané Garrincha foi considerado o estádio mais caro da Copa. Vale lembrar que o Mané Garrincha já existia antes da Copa, e que tecnicamente, ele passou por uma reforma. Veja o que a reportagem da Folha de São Paulo diz sobre o tema clicando aqui. Eu questiono para que servirá um estádio tão caro como o Mané Garrincha, depois da Copa, num local sem nenhuma expressão no futebol? Para ser palco de jogos como Ceilândia x Ceilandense? Luziânia x Brasília? Gama x Brasiliense? Criança Esperança x Teleton? Amigos do Ronaldo x Combinado do Kuwait? Ah, faça-me um favor!

É contraproducente um estádio de futebol como o Mané Garrincha e o de outros estados (Arena Amazônia, Arena Pantanal, só para exemplificar) ficarem com seu uso limitado a jogos de excursão de times grandes do Rio e de São Paulo, e de shows internacionais de grandes bandas de rock.

E o que dizer do Itaquerão? Uma das mais polêmicas arenas construídas para a Copa, a Arena Corinthians teve grande parte de seus recursos providos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo a página institucional do BNDES, a entidade, que é uma “empresa pública federal, é hoje o principal instrumento de financiamento de longo prazo para a realização de investimentos em todos os segmentos da economia, em uma política que inclui as dimensões social, regional e ambiental”. Tudo bem, eu entendo que o negócio do BNDES é fazer financiamento mesmo, mas em se tratando de uma empresa pública federal, eu francamente devo questionar esse tipo de financiamento, com outras tantas prioridades para se investir. Só para deixar claro, quem faz o financiamento é o BNDES, mas quem faz o empréstimo, como intermediário entre o consórcio responsável pela construção do estádio e o BNDES é a Caixa Econômica Federal. Que aliás, apenas a título de curiosidade, utiliza o capital da empresa (cujo dinheiro não deixa também de ser nosso, já que somos donos da empresa) para patrocinar o Corinthians e também o Flamengo.

E só pra finalizar esse tópico, quero deixar bem claro o que eu penso sobre um certo discurso que é bem recorrente por aí. “Ah, mas você é burro, Kily, você não tem perspectiva, você não olha pra frente, a Copa vai trazer lucro e retorno financeiro para todo o país”. Duas coisas. Primeira: eu não acredito que a Copa trará retorno financeiro para o brasil, mas aceitemos esse argumento como verdadeiro por apenas um instante; eu tenho certeza absoluta que esse retorno virá para as mãos dos mais ricos deste país, e não para a grande massa da população, que é a parte mais pobre do país e que mais precisaria usufruir dos lucros de uma Copa. Segunda: as necessidades da população são impreteríveis, isto é, inadiáveis; se existem necessidades urgentíssimas de investimento nas áreas de saúde, educação, transporte e segurança pública, qual a lógica de se investir num evento, que em tese trará frutos apenas em longo prazo, se as necessidades da população são para ontem? Contra essas indagações, não há argumentos.



B – Projetos Não Concluídos (ou concluídos de modo sofrível)
Ao que parece, não somos um povo que preza muito por pontualidade nem por qualidade. Fazemos as coisas nas coxas, apenas para tapear, como bem disse o presidente da Infraero. Fazendo uma analogia da Copa com uma visita em nossa casa, os turistas são os visitantes, a organização da Copa é a limpeza da casa, e o que está acontecendo pode ser chamado como “a sujeira jogada pra debaixo dos tapetes”.

Um extenso hall de promessas foram realizadas para esta Copa, mas diversas delas não foram cumpridas. Seis estádios ficarão sem Wi-fi para o evento. O que equivale a 50% das sedes da Copa. Quem quiser utilizar a net local, terá uma infeliz surpresa quando tentar estabelecer a conexão.

Melhorias no transporte também não se concretizaram. O VLT de Brasília ficou só no quase. Há um mês do início da competição, alguns estádios ainda sofrem problemas, nem inaugurados foram. O Itaquerão, por exemplo, que será palco da abertura da Copa, sequer recebeu uma partida oficial até hoje. Não se pode dizer ainda qual a qualidade da estrutura, e quais são os pontos críticos para o acesso ao local dos jogos em São Paulo.

Isso sem falar em todo o processo, que envolveu vidas perdidas durante as obras do estádio. Será que na construção dos estádios não tem CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes)? Cadê a fiscalização? Cadê os profissionais da segurança do trabalho? Enquanto pesquisava na internet para este post, descobri que mais um cidadão morreu enquanto trabalhava, desta vez na Arena Pantanal. O link da reportagem no site da Globo pode ser visto aqui. Segundo a reportagem, esta foi a nona morte de trabalhadores em obras de estádios do brasil. Mas, quem é que se importa com essas vidas perdidas? Afinal de contas, esse número é irrisório, se comparado com os gastos descomunais e inimagináveis realizados para a Copa. O que são nove pessoas perto de bilhões e bilhões de reais? Eu tom de crítica, é claro, eu acho que se nos empenharmos um pouco mais, ainda conseguimos matar mais um pra fechar com dez mortos, que é um número redondo. Ainda temos um mês para isso.

Campinas receberá a seleção de Portugal, que treinará na cidade. Ouvi uma reportagem na rádio CBN, falando da preocupação da vigilância sanitária e dos demais órgãos de saúde locais, acerca da epidemia de dengue que vem ocorrendo nessa grande cidade do interior paulista. E todo um esquema será montado para proteger Cristiano Ronaldo e companhia. Note aqui que a força da campanha de tratamento e prevenção contra a dengue ganha um impulso enorme com a presença da seleção de CR7, ou seja, os portugueses não podem adoecer, já os brasileiros... acho louvável receber bem um visitante em nosso casa, mas cadê o bom tratamento para os moradores daqui?



C – Legado da Copa
Qual é a imagem que o brasil deixará para o mundo ao realizar essa tão badalada competição mundial? E, principalmente, qual será o legado da Copa? O que o povo poderá aproveitar depois da Copa? Ronaldo, um ídolo nacional, e um cara eu admiro muito, caiu na besteira de dizer que Copa do Mundo não se faz com hospitais, se faz com estádios. Eu temo dizer que, depois desses efêmeros trinta dias de competições, o que nós mais vamos precisar nesse país não são de estádios, de elefantes brancos, mas sim de hospitais, de empregos, de melhoria no transporte público para que os trabalhadores deixem de sofrer tanto, e de educação, que na minha opinião é a principal via de mudança para um país tão desigual quanto o nosso.

É lamentável, mas pouca coisa ficará de verdade para a massa. Temos que lembrar que a massa não pega avião. Então, até as parcas melhorias nos aeroportos, não trarão reflexos para a maioria da população.

O que o povão mesmo irá usar depois da Copa? Faz dois anos que moro em Brasília, e na minha percepção, o transporte público nunca esteve tão ruim quanto nos últimos meses. Mas as propagandas políticas do GDF não param de afirmar que tudo vem melhorando, que a frota foi trocada e blá blá blá.

O que irá mudar depois da Copa? Os brasileiros que levam duas horas de casa para o trabalho por conta do trânsito, após a Copa reduzirão o tempo pela metade?

O que irá mudar depois da Copa? Os hospitais que têm apenas um médico de plantão atendendo a uma população de 300 mil pessoas, passarão a contar com pelo menos 6 médicos, atendendo com qualidade, presteza e com estrutura física ideal para a promoção e recuperação da saúde?

O que irá mudar depois da Copa? Aqueles que estão na escola sem saber ler nem escrever, sairão de lá alfabetizados, críticos e pensadores? O que irá mudar depois da Copa?

A resposta para essa e outras perguntas, eu sinto um aperto no coração ao dar, mas se resume numa única palavra de quatro letrinhas.

Nada.



Previsões para a Copa
Há um mês do início da Copa, em meio a instabilidade política, tantas coisas acontecendo em territórios brasileiros, tais como o escândalo da Petrobrás, o início da corrida eleitoral de 2014 e o fantasma do descontentamento popular de 2013 pairando no ar, expresso através da celeuma do povo indo nas ruas e manifestando-se contra os miasmas pútridos dos bastidores políticos, ficam as seguintes perguntas: como transcorrerá a Copa? O evento ocorrerá com sucesso? Como o brasil desempenhará seu papel como anfitrião, e como isso repercutirá no mundo todo? Partindo dessas indagações, lanço uma lista de possíveis acontecimentos no decorrer da Copa, que poderão (ou não) ser manchete durante o torneio. Não estou dizendo que tais coisas acontecerão, apenas que, são coisas que devemos ficar de olho.

Abaixo, apresento uma lista de “minas” que podem explodir a qualquer momento no campo minado do brasil e repercutir perante o mundo:

1 – Manifestações populares durante a Copa: as manifestações ocorrerão com a mesma força do ano passado? E como as forças policiais agirão? Haverão excessos? Como será a repercussão nacional e internacional de possíveis manifestações?

2- Manifestações dentro dos estádios: não é porque estão indo assistir aos jogos da Copa, que os brasileiros das classes mais favorecidas estão contentes com o cenário político do país. Haverão manifestações dentro dos estádios, tais como vaias, gritos de guerra ou até mesmo cartazes criticando o país? Como o mundo olhará para um país politicamente instável?

3 – Corrida eleitoral: todos os partidos políticos estão de olho na Copa. Quem está no poder, esperando que o evento seja um sucesso, para usar como alavanca eleitoral; que não está, torcendo por falhas, que serão utilizadas na corrida eleitoral para angariar votos e deslegitimar a competência de quem está no poder.

4 – Apagões: será que acabará a energia em algum estádio durante os jogos? Estamos sempre falando de aumento do preço da energia elétrica, de empréstimo do governo para as fornecedoras de energia. Será que, a exemplo do que acontece de vez em quando na Taça Libertadores da América, vai acabar a luz no meio do jogo? Aí vai ficar feio, hein...

5 – Acesso aos estádios: todo mundo vai conseguir chegar aos estádios? Vai ter busão pros turistas irem ver os jogos? Não vai ter engarrafamento? As sinalizações de placas serão perfeitas, ou ainda veremos pérolas como esta aqui de Brasília?

6 – Greves: tenho ouvido a respeito de vários indicativos de greve. Servidores públicos de muitos órgãos estão querendo cruzar os braços. Já se fala de Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal. Alguns já entraram, outros pretendem deixar bem para a semana do início da Copa. Há quem diga que muitos pararão. Já eu, acredito seriamente na paralisação de serviços essenciais, como o transporte público. Dou o maior apoio aos motoristas e cobradores de ônibus (vulgo rodoviários), se estes pararem. Aí vai se instalar o caos. Só a título de curiosidade, pra verem como é que todo mundo confia no transporte público de Brasília, na UnB, onde eu estudo, não haverão aulas em todos os dias quando houverem jogos da Copa aqui. E o motivo? Porque eles sabem que o aumento do contingente de ônibus nas imediações do estádio ocorrerão em detrimento da diminuição e até mesmo paralisação total dos ônibus para outras localizações, como no Campus da UnB.

7 – Aeroportos: teremos atraso nos aeroportos? Cancelamentos? Os turistas ficarão satisfeitos com as instalações nos terminais de embarque e desembarque? E, quem sabe, rolará algum terrorismo no país?

8 – Turistas mortos: e para finalizar (a lista poderia ser maior, mas me faltam ideias), imagine a seguinte situação. Um turista norte-americano está no brasil, passeando, depois de assistir a um dos três jogos para os quais veio ver. E o inesperado acontece, ele é assaltado, se desespera com o meliante armado, não consegue estabelecer comunicação, devido a diferença linguística, reage ao assalto e acaba sendo morto. O Sr. Barack Obama exige uma resposta das autoridades brasileiras, em vista da morte de seu compatriota e filho de sua amada nação Estados Unidos. E o brasil não faz a mínima ideia de quem foi que deu cabo da vida do gringo. Já imaginou a situação? Quando uma pessoa é morta em terras estrangeiras, cabe ao governo do morto exigir do governo estrangeiro uma resposta que demonstre que justiça será feita, caso contrário, as relações entre os dois países ficam muito tensas. Como seria a situação? Como os abutres da imprensa cobririam o fato?


São muitas divagações as que fiz aqui. Espero que tenham gostado. E agora, vamos esperar a Copa do Mundo, para saber o que acontecerá de fato, e o que ficará apenas no “se”.

...


Meu agradecimento especial a dona do coração do Kily, que auxiliou e muito na construção deste texto, com suas opiniões, críticas e incentivos. Dedico a ela esta produção. Assim como a Copa do Mundo, fiz tudo correndo para conseguir entregar este texto no prazo por mim prometido. Só espero que ele não tenha ficado tão nas coxas igual a competição que aqui se desenrolará. Peço desculpas por eventuais erros, mas para mim as coisas realmente estão muito corridas e não tive tempo hábil para uma revisão de conteúdo, gramatical e ortográfica de qualidade.



¹ Em tom de crítica, brasil será escrito com b minúsculo todas as vezes que aparecer.
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