segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Perguntas Frequentes

Todas as vezes que eu vou para Piraju nas férias, eu sou obrigado a ouvir várias perguntas repetidas, e respondo várias vezes cada uma delas, para diferentes pessoas que visito quando estou por lá. E em todas as férias, são praticamente as mesmas santas perguntas. Pensando nisso, com o intuito de evitar de ter que responder as mesmas perguntas sempre que eu for para Piraju, e em todas as casas e famílias que eu for visitar, eu decidi criar um panfleto informativo, o qual distribuirei para todas as pessoas assim que eu chegar em suas respectivas casas¹.

A ideia é que cada vez que eu viajar para A Ilha, eu atualizarei as respostas (no caso de algum dado ter ser tornado obsoleto), mudando o design do panfleto, de modo a parecer que consiste num panfleto totalmente novo, com perguntas e respostas diferentes.

A seguir, apresento o modelo que estou pensando em utilizar para o meu panfleto informativo, com alguns comentários a serem apresentados no final deste texto:

FAQ – Perguntas Frequentes

Pergunta: E aí, como que tá Brasília?
Resposta: A mesma bosta de sempre.

Pergunta: E cê já viu a Dilma pessoalmente?
Resposta: Vejo a Dilma pessoalmente com a mesma frequência que você a vê pessoalmente.

Pergunta: E o custo de vida lá de Brasília? Eu fiquei sabendo que é alto...
Resposta: Sim, o custo é bem alto. Mas não sei se “de vida” é a melhor locução adjetiva a ser utilizada nesse contexto, porque aquilo lá não é vida, não!

Pergunta: É, eu ouvi na "rádia" que a cidade lá é bem perigosa e violenta, é verdade isso? Não sei se você sabe, mas Piraju anda bem violenta também...
Resposta: NÃO, você não faz ideia do que é uma cidade perigosa. Eu vou te contar um segredo: PIRAJU NÃO É UMA CIDADE PERIGOSA! Você realmente quer acreditar que os perigos aos quais os brasilienses e os pirajuenses estão suscetíveis se equiparam em magnitude, MAS ELES NÃO SE EQUIPARAM! Tire essa ideia ridícula da sua cabeça, porque isso me ofende profundamente, principalmente quando me lembro dos cagaços que eu frequentemente passo em Brasília. Aposto que você não passa nem um décimo aqui em Piraju, do que eu passo lá no Distrito Federal.

Pergunta: E como que tão os estudos lá?
Resposta: Vão bem, está corrido, mas tá tudo bem.

Pergunta: Quanto tempo que falta pr’ocê se formar?
Resposta: Não sei também, boa pergunta...

Pergunta: Ué, mas cê tá em qual semestre?
Resposta: Cronologicamente, no sexto. Curricularmente, mais ou menos no quarto. Mentalmente (devido ao cansaço), no vigésimo.

Pergunta: E o que que cê tá fazendo mesmo?
Resposta: Eu faço Psicologia.

Pergunta: Ah, então... cê que é psicólogo, me tira uma dúvida...²
Resposta: Primeiro, eu não sou psicólogo, eu apenas faço faculdade de Psicologia, o que não significa que eu saiba alguma coisa sobre os seres humanos.

Pergunta: E quando cê se formar, cê vai abrir um consultório? Vai dar desconto pros parentes? (risos)
Resposta: Olha, sinceramente, eu não pretendo abrir consultório, não.

Pergunta: Ué, então pra que que cê tá estudando Psicologia?
Resposta: Boa pergunta...

Pergunta: E cê pretende trabalhar como psicólogo mesmo, ou como psiquiatra?
Resposta: Só psicólogo, eu faço Psicologia. PSI-CO-LO-GI-A. A Psiquiatria é uma especialidade da Medicina, portanto, só quem faz Medicina pode se especializar nessa área.

Pergunta: Viu, e são quantas horas de viagem de Brasília até aqui?
Resposta: São 15 horas até Ouro Pequeno³. De lá eu ainda tenho que pegar outro ônibus para Piraju.

Pergunta: E a namorada? Quando que cê vai trazer ela pra gente conhecer?
Resposta: Quando der.

Pergunta: E por que que ela não veio dessa vez?
Resposta: Porque não deu.

Pergunta: E esse cabelo e essa barba? Quanto tempo faz que cê não corta?
Resposta: O cabelo, uns cinco anos. A barba, cinco meses.

Pergunta: E por que que cê num corta? Cê fez promessa?
Resposta: Não sei também. Não, eu não fiz promessa.

Pergunta: E até quando que cê vai ficar por aqui?²+²
Resposta: Até a primeira semana do mês que vem, porque logo depois começam as aulas.

Pergunta: E como é o seu nome mesmo?
Resposta: ¬¬”


¹ Quero deixar bem claro que não estou culpando as pessoas por perguntarem sempre as mesmas coisas. Essa é uma curiosidade típica da natureza humana, e é meio óbvio que, dada a minha história de vida, as perguntas seguirão mais ou menos o mesmo caminho. Meu objetivo é simplesmente fazer uma piada com este fato um pouco incômodo – mas tolerável – da minha vida.
² As reticências indicam que o que importa aqui é este típico começo, que mostra que a pessoa pretende fazer uma pequena “consulta” comigo, achando que os meus três anos de faculdade são suficientes para eu sanar alguma curiosidade que ela tem.
³ Ouro Pequeno é a carinhosa nomenclatura que um amigo meu deu para a cidade de Ourinhos, onde ele vive. É a ela que eu faço alusão nessa resposta.
²+² Existe uma variação dessa pergunta, essa sim muito mais ofensiva: “E quando que cê vai embora?”. Nesta variação, percebe-se claramente que meu interlocutor demonstra certa nota de urgência de ver Piraju livre da minha impertinente presença.

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