Todas as vezes que eu vou
para Piraju nas férias, eu sou obrigado a ouvir várias perguntas repetidas, e respondo
várias vezes cada uma delas, para diferentes pessoas que visito quando estou
por lá. E em todas as férias, são praticamente as mesmas santas perguntas.
Pensando nisso, com o intuito de evitar de ter que responder as mesmas
perguntas sempre que eu for para Piraju, e em todas as casas e famílias que eu
for visitar, eu decidi criar um panfleto informativo, o qual distribuirei para
todas as pessoas assim que eu chegar em suas respectivas casas¹.
A ideia é que cada vez que
eu viajar para A Ilha, eu atualizarei as respostas (no caso de algum
dado ter ser tornado obsoleto), mudando o design
do panfleto, de modo a parecer que consiste num panfleto totalmente novo, com
perguntas e respostas diferentes.
A seguir, apresento o modelo
que estou pensando em utilizar para o meu panfleto informativo, com alguns
comentários a serem apresentados no final deste texto:
FAQ – Perguntas Frequentes
Pergunta:
E aí, como que tá Brasília?
Resposta: A mesma bosta de
sempre.
Pergunta:
E cê já viu a Dilma pessoalmente?
Resposta: Vejo a Dilma
pessoalmente com a mesma frequência que você a vê pessoalmente.
Pergunta:
E o custo de vida lá de Brasília? Eu fiquei sabendo que é alto...
Resposta: Sim, o custo é bem
alto. Mas não sei se “de vida” é a melhor locução adjetiva a ser utilizada nesse contexto, porque aquilo lá
não é vida, não!
Pergunta:
É, eu ouvi na "rádia" que a cidade lá é bem perigosa e violenta, é verdade isso?
Não sei se você sabe, mas Piraju anda bem violenta também...
Resposta: NÃO, você não faz
ideia do que é uma cidade perigosa. Eu vou te contar um segredo: PIRAJU NÃO É
UMA CIDADE PERIGOSA! Você realmente quer acreditar que os perigos aos quais os
brasilienses e os pirajuenses estão suscetíveis se equiparam em magnitude, MAS
ELES NÃO SE EQUIPARAM! Tire essa ideia ridícula da sua cabeça, porque isso me
ofende profundamente, principalmente quando me lembro dos cagaços que eu
frequentemente passo em Brasília. Aposto que você não passa nem um décimo aqui
em Piraju, do que eu passo lá no Distrito Federal.
Pergunta:
E como que tão os estudos lá?
Resposta: Vão bem, está
corrido, mas tá tudo bem.
Pergunta:
Quanto tempo que falta pr’ocê se formar?
Resposta: Não sei também,
boa pergunta...
Pergunta:
Ué, mas cê tá em qual semestre?
Resposta: Cronologicamente,
no sexto. Curricularmente, mais ou menos no quarto. Mentalmente (devido ao
cansaço), no vigésimo.
Pergunta:
E o que que cê tá fazendo mesmo?
Resposta: Eu faço
Psicologia.
Pergunta:
Ah, então... cê que é psicólogo, me tira uma dúvida...²
Resposta: Primeiro, eu não
sou psicólogo, eu apenas faço faculdade de Psicologia, o que não significa que
eu saiba alguma coisa sobre os seres humanos.
Pergunta:
E quando cê se formar, cê vai abrir um consultório? Vai dar desconto pros
parentes? (risos)
Resposta: Olha,
sinceramente, eu não pretendo abrir consultório, não.
Pergunta:
Ué, então pra que que cê tá estudando Psicologia?
Resposta: Boa pergunta...
Pergunta:
E cê pretende trabalhar como psicólogo mesmo, ou como psiquiatra?
Resposta: Só psicólogo, eu
faço Psicologia. PSI-CO-LO-GI-A. A Psiquiatria é uma especialidade da Medicina, portanto, só quem faz Medicina pode se especializar nessa área.
Pergunta:
Viu, e são quantas horas de viagem de Brasília até aqui?
Resposta: São 15 horas até
Ouro Pequeno³. De lá eu ainda tenho que pegar outro ônibus para
Piraju.
Pergunta:
E a namorada? Quando que cê vai trazer ela pra gente conhecer?
Resposta: Quando der.
Pergunta:
E por que que ela não veio dessa vez?
Resposta: Porque não deu.
Pergunta:
E esse cabelo e essa barba? Quanto tempo faz que cê não corta?
Resposta: O cabelo, uns
cinco anos. A barba, cinco meses.
Pergunta:
E por que que cê num corta? Cê fez promessa?
Resposta: Não sei também.
Não, eu não fiz promessa.
Pergunta:
E até quando que cê vai ficar por aqui?²+²
Resposta: Até a primeira
semana do mês que vem, porque logo depois começam as aulas.
Pergunta:
E como é o seu nome mesmo?
Resposta: ¬¬”
¹ Quero deixar bem claro que
não estou culpando as pessoas por perguntarem sempre as mesmas coisas. Essa é
uma curiosidade típica da natureza humana, e é meio óbvio que, dada a minha
história de vida, as perguntas seguirão mais ou menos o mesmo caminho. Meu
objetivo é simplesmente fazer uma piada com este fato um pouco incômodo – mas
tolerável – da minha vida.
² As reticências indicam que
o que importa aqui é este típico começo, que mostra que a pessoa pretende fazer
uma pequena “consulta” comigo, achando que os meus três anos de faculdade são
suficientes para eu sanar alguma curiosidade que ela tem.
³ Ouro Pequeno é a carinhosa nomenclatura que um amigo meu deu para a cidade de Ourinhos, onde ele vive. É a ela que eu faço alusão nessa resposta.
²+² Existe uma variação dessa
pergunta, essa sim muito mais ofensiva: “E quando que cê vai embora?”. Nesta
variação, percebe-se claramente que meu interlocutor demonstra certa nota de
urgência de ver Piraju livre da minha impertinente presença.
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