Faz alguns meses que decidi escrever um texto sobre o seriado Chaves no meu blog. Mas, devido à correria do dia-a-dia, ao cansaço e até mesmo à preguiça, acabei procrastinando, e por fim desistindo. Hoje, recebi a triste notícia da morte de Roberto Gómez Bolaños, o Chespirito, Pequeno Shakespeare, apelido dado a ele por conhecidos, devido a sua genialidade.
Ele partiu hoje, depois de uma vida extremamente produtiva, deixando sua marca por onde passou. A eternidade física é uma ilusão, mas acredito que Bolaños alcançou a imortalidade em seus personagens, pois sua obra continuará viva em minha lembrança e em meu coração.
Em homenagem a esse brilhante mexicano, que conquistou muita gente com a sua obra e com seus personagens, decidi que devia ressuscitar essa publicação. Se eu puder ter só um pouquinho daquele talento para fazer esta homenagem, já me sentirei realizado.
Obrigado, Chespirito!
CHAVES
Sou um fã da obra de Roberto
Gómez Bolaños. Mesmo sabendo todas as falas de antemão e já conhecendo as
piadas manjadas dos episódios, ainda sou capaz de me deliciar assistindo
Chaves, Chapolin, Dr. Chapatin, Chaveco, Don Caveira e Pancada Bonaparte. Tenho
uma sensação de paz quando estou vendo um episódio do Chespirito.
Na internet, a série Chaves
é alvo de inúmeras discussões. Discussões estas que envolvem acontecimentos ao
longo dos episódios, como erros de gravações que foram ao ar, incongruências
entre informações dos personagens, traduções brasileiras e muitas outras
curiosidades. São inúmeros os fóruns de discussão sobre esses temas. E a seguir,
tentarei trazer a minha contribuição sobre alguns fatos (que considero)
curiosos relacionados à série. Afinal, acho que são esses debates levantados que
geram todo o imaginário que permeia Chaves e faz dela uma série que vem
atravessando gerações e fazendo parte da infância de milhões de pessoas.
Então, passemos as
curiosidades.
1
– O filme do Pelé
Quem não se lembra do
episódio Vamos ao Cinema, em que toda a turma da vila vai pegar um filminho? Fora
o microfone que acidentalmente aparece nas cenas do cinema, eu quero destacar
outro fato desse episódio. Se eu perguntar para várias pessoas o que tem de
mais marcante no episódio, provavelmente ouvirei delas que é o Chaves resmungando
diversas vezes a frase “seria melhor ter ido ver o filme do Pelé”. Fiquei me
questionando, qual seria esse filme do Pelé que O Menino do Oito se referia
nesse episódio. Não cheguei a uma resposta, mas descobri algumas coisas
interessantes.
A primeira delas, é que no
episódio original, o qual assisti para escrever este post, o Chaves não faz nenhuma
alusão ao Rei do Futebol, o que seria bem estranho mesmo, já que a série é
mexicana. O filme que ele cita é outro. Na versão original, o Chaves refere-se
ao filme El Chanfle. Pra quem não
sabe, El Chanfle é um
filme estrelado pelo mesmo elenco que compõe o seriado Chaves. Como se sabe,
Chespirito tinha esse hábito mesmo de entrelaçar suas obras, umas nas outras.
Quem não se lembra do Seu Madruga lendo o gibizinho do Chapolin Colorado? Portanto,
o filme citado na versão original, nada mais é do que o próprio filme escrito e
estrelado Bolaños.
A segunda descoberta
interessante diz respeito ao próprio Pelé. Pra quem não sabe, o Edson já atacou
de ator também, produzindo algumas pérolas no cinema nacional e internacional.
Dentre elas, Edson participou de um filme brasileiro, Pedro Mico, mas por algum
motivo, teve sua voz dublada pelo Milton Gonçalves. Será que ele é tão ruim
ator assim?
Outra pérola do Edson é no
filme Os Trombadinhas, em que ele fez
uma cena que quase lhe rendeu o Óscar de Melhor Ex-Jogador de Futebol em
Longa-Metragem. A cena a qual eu me refiro pode ser visualizada clicando aqui.
Bom, mas estou me desviando
do objetivo desse texto para curiosidades sobre o Pelé. Voltemos ao tema
principal do texto. Conjecturas à parte, não se sabe o que se passava na cabeça
da galera do estúdio de dublagem da série no Brasil, quando decidiu citar o
filme do Pelé no episódio do cinema. Provavelmente, jamais saberemos qual era o
filme do Pelé que o Chaves preferia ter ido ver. O que sabemos, é que se todos
os filmes do Pelé são um lixo, misericórdia do filme que eles estavam assistindo
naquele cinema...
2
– A esquina
Já repararam na quantidade
de pontos comerciais que ficam na esquina da Vila? A barbearia onde o Seu
Madruga trabalhou ficava na esquina. O tão sonhado sanduíche de presunto que o
Chaves queria comprar ficava na esquina. E o restaurante que a Dona Florinda assumiu
ficava onde? Adivinhe? Se você respondeu “na esquina”, você acertou!
Além disso, a esquina também
já abrigou um terreno baldio, que foi mostrado no episódio em que as crianças
iam lá jogar futebol (não o nosso, mas o americano). Não se sabe se o terreno baldio fica na mesma
esquina ou em outra, mas é provável que fique em outra.
Essa quantidade de pontos
comerciais na esquina me levou a pensar no quão ruim é aquele ponto comercial.
E em como o poder público investe pouco no comerciante. Devem ter feito uma
mandinga das bravas naquele lugar, quem sabe a Bruxa do 71 não lançou um
feitiço no antigo proprietário do imóvel, por não corresponder ao seu amor
platônico? Estava bom de chamar um padre pra exorcizar aquele lugar, quem sabe até
com o mesmo padre que ouviu a confissão do Chaves quando ele foi embora da vila
por acharem que ele era um ladrão.
3
– Que Bonita Sua Roupa
No episódio Uma Aula de
Canto, foi cantada uma das músicas mais famosas do Chaves, Que Bonita Sua Roupa. Sobre esta música,
é interessante, em primeiro lugar, identificar que na versão mexicana, o título
da música é Que Bonita Vecindad. Vecindad
é uma palavra espanhola que pode ser traduzida como vizinhança. Mas a
vizinhança em português virou “sua roupa”. Mais uma salva de palmas para os
tradutores do seriado.
A coreografia da música é
tão simples, que não precisa ser nenhum Michael Jackson para replicá-la, nem a ajuda do coreógrafo Fly.
Entretanto, um possível erro na dança do pessoal da Vila é discutido até hoje. Tal
erro é discutido, para saber de quem seria a culpa, e o que de fato teria
acontecido no momento da gravação. Clique aqui para assistir ao clipe e
acompanhar a discussão a seguir.
Com 1:30, Seu Madruga ri
olhando em direção aos bastidores, movimento uma das mãos e dando um passo, como se deixando de dançar.
A seguir, ele volta a coreografia. Entretanto, alguns segundos antes,
pode-se perceber que os pulos do Mestre Linguiça estão dessincronizados em relação
aos pulos dos demais personagens. Os defensores de Don Ramón o eximem de culpa nisso, atribuindo-a a
Ruben Aguirre, o Professores Jirafales. Apesar do possível erro na coreografia,
o episódio foi ao ar desse jeito, para curiosidade geral. E a maior curiosidade
de todas consiste no fato de haver pessoas discutindo esse tema até hoje.
4
– Números estranhos
Mesmo Chaves tendo mais de
mil episódios, incluindo esquetes, em todos os episódios em que Seu Madruga
participa, sua dívida de aluguel com o Seu Barriga continua a mesma: 14 meses
de aluguel. Seu Madruga jamais ficou devendo 13 ou 15 meses. Lembrem-se ainda
que, num episódio, o Seu Madruga paga pelo menos um mês de aluguel. Mas ele
continua devendo quartorze.
E por falar em quatorze,
esse é o número da casa da Dona Florinda. O número da casa da Dona Clotilde é
71 e a da casa do Seu Madruga é 72. Qual é a lógica da numeração das casas na
Vila? E será que podemos dizer que na Vila tem pelo menos 72 casas? Além das
três casas em maior evidência, sabe-se ainda que tem a número 8, onde mora o
Chaves, a 24, que fica subindo as escadas ao lado do barril do Chaves, onde já
moraram Glória e Paty, mas também Jaiminho e Chiquinha, nas últimas temporadas.
Só que, no Festival da Boa Vizinhança, os expectadores do espetáculo dirigido
por Seu Madruga não chega a 20 gatos pingados (incluindo o Seu Barriga e o
Mestre Linguiça, que nem ali moram).
5
– Seu Madruga
O Seu Madruga já deixou bem
claro que não suporta ser acordado às 11 da madrugada. Aliás, porque Don Ramón
em português ficou Seu Madruga?
Voltando a ideia inicial,
todo mundo fala que o Seu Madruga é vagabundo, que não é muito dado ao
trabalho, que é caloteiro, não paga o aluguel. Contudo, ele trabalhou num
extenso hall de profissões que daria
inveja em muita gente. Já vi o Seu Madruga trabalhando de marceneiro, barbeiro,
pedreiro, jardineiro, boxeador, fotógrafo, professor de violão, vendedor de
balões, vendedor de churros, terapeuta (conselheiro sentimental do Jirafales)
além de já ter sido eventualmente diretor de Festival da Boa Vizinhança e de
ter dado uma aula para a turminha que deixou a metodologia pedagógica do
Professor Jirafales no chinelo.
Além de todos esses
trabalhos, o Seu Madruga é um exemplo de homem, que disse algumas das frases
que marcaram minha infância. Posso dizer que ele foi o primeiro filósofo que
entrei em contato na minha vida. Encerro esta sessão com algumas de suas
célebres frases:
A vingança nunca é plena,
mata a alma e a envenena.
As pessoas boas devem amar
seus inimigos.
Não existe trabalho ruim. O
ruim é ter que trabalhar.
6
– A menina da escola
Num dos episódios que se
passam na escola, um acontecimento muito estranho ainda me deixa com muitas
dúvidas (link). Vou me limitar a descrever as falas da versão brasileira, embora haja
diferença para a versão mexicana. O Professor Jirafales pergunta para a classe
se alguém pode dizer o nome de tribos brasileiras. Uma menina, até então
figurante, responde “os tamoios”. Todos olham espantados para ela. Logo em
seguida, ela acrescenta: “posso ir ao banheiro?”. E o Professor Jirafales responde:
“sim, Iara, sim”. E eis que a menina, após dizer essas seis palavras,
levanta-se e sai da sala. E nunca mais aparece na série, em nenhum outro
episódio.
Mais estranho ainda é o
burburinho que fica na sala após a saída dela, principalmente a fala da Pópis,
que diz, com sua voz fanha: “ih, menina, você viu? Eu nunca vi um negócio
desses, que temperamental, hein? Você viu só? E se fosse eu o professor ia dar
uma tremenda bronca”. Completamente sem sentido. A única coisa que consegui
apurar sobre esta cena, é que a atriz que interpretou Iara foi Angélica María.
Concluindo...
Eu tenho muita coisa pra falar ainda, como as referência épicas na versão brasileira a Pedro de Lara, Maitê Proença e muitas outras. Mas isso vai ficar, quem sabe, para outra oportunidade. Essas curiosidades foram inspiradas em minha própria experiência com a série. Algumas coisas foram inspiradas no vídeo do Danilo Gentili sobre o Chaves, embora outras, que são parecidas, foram mera coincidência. É com um sentimento de tristeza, mas também de profundo carinho por tudo o que Chespirito produziu e chegou até mim, que encerro esta postagem.
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