Para Senhorita Rocha e para minha amiga de Guaianases.
Para minha amiga de Guaianases e para Senhorita Rocha.
Essa semana eu andei de avião pela
primeira vez na minha vida. Durante o voo, alguns pensamentos um tanto
obsessivos permearam a minha mente. E é sobre eles que quero refletir nessa
postagem.
Pra quem não sabe, a
metacognição é a capacidade inerentemente humana de refletir sobre os seus
próprios pensamentos. É como se fosse o pensamento do pensamento. Sendo assim,
vou contar um pouco sobre o que pensei, e sobre o que penso sobre tais
pensamentos.
Ao entrar no avião, comecei
a emitir vários respondentes, tais como tremores, sudorese, taquicardia, enurese diurna e copracrasia, todos
eliciados pelo medo da experiência que me aguardava. Por algum motivo, temos a
falsa sensação de que, ao voarmos pela primeira vez, nossa chance de morrer
aumentou substancialmente, a um nível crítico, se comparado com outras
experiências de nosso cotidiano. É como se acendesse um sinal vermelho de
perigo dentro de nós, avisando que corremos um grande risco de finarmos.
Bom, eu sou um cara
inteligente. Eu sei refletir sobre as coisas. Veja bem, recentemente, temos
visto acidentes com aeronaves com uma certa frequência. Mesmo assim, se
calcularmos no Brasil, o número de voos comerciais que são feitos saindo de
todos os aeroportos do país, e que chegam em seus destinos com segurança, e
contabilizarmos também aqueles com algum acidente fatal, veremos que é um
número irrisório. Não faço a menor ideia de como fica essa estatística, mas
acredito que fique bem abaixo de 0,01% de voos que terminam em tragédias. Sendo assim,
não há motivos racionais para ficar com medo da experiência “andar de avião”.
Mas vamos abrir um
precedente e considerar que esse argumento é inválido, e que de fato as chances de se morrer num dia normal, que são de 0,0001% sobem para assustadores 5% (isto é, a cada
vinte voos que decolam, é provável que pelo menos um deles seja vitimado por
uma tragédia). Então, considerando que o perigo que corremos num voo é real, o
medo passa a ser justificado? Pensemos no medo segundo seu valor adaptativo.
Pra quem não sabe, do ponto de vista evolutivo, o medo tem duas funções básicas para
qualquer espécie animal: preparar seu organismo física e emocionalmente para
lutar ou fugir, frente a um inimigo ou situação de perigo real. Em nosso
exemplo hipotético, qual é o perigo real? A queda do avião. Considerando esse
perigo real, de qual forma o medo pode nos auxiliar a preservar nossas vidas?
Podemos lutar contra a queda do avião? Podemos de alguma forma fugir, saltar da
aeronave, contornando dessa forma, o risco de morte?
Acredito que com esses dois
argumentos – o argumento estatístico e o argumento da ineficácia funcional do
medo – eu consigo convencer qualquer um de que o medo é inútil nessas
situações. Afinal, é improvável que aconteça algum acidente. E, se acontecer, é
improvável que o medo seja a variável determinante no desfecho da tragédia – a
saber, sua sobrevivência ou sua morte.
Mas aí que vem o X da
questão, que mesmo depois dessa metacognição, prevalece: mesmo sabendo disso
tudo, na hora H, quando o avião decola e perde contato com o solo, como fazer
para que o medo não tome conta de nós? Eis o problema que eu ainda não dei
conta de solucionar. Talvez, a melhor solução seja tomar um calmante e dormir
durante o voo. Torcendo, é claro, para que aquela não seja a última vez que
você vai dormir.
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