sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O Emprego - Parte III


{Aprecie agora mais uma parte desta saga, que foi um dos maiores erros que já cometi neste blog.}

O escritório na verdade era uma cozinha simples, com um fogão repleto de restos de comida, especialmente pizza, e uma mesa de madeira ordinária com três cadeiras. Matheus sentara-se ereto numa delas, bem de frente a Bazé. Matheus sentia o insuportável cheiro de fezes que inundava a cozinha. E ele sabia exatamente de onde provinha o cheiro. Os sucessivos sustos que levara quando apontaram a arma para sua cabeça fizeram com que seus esfíncteres se soltassem, deixando que as fezes saíssem em abundância de seu interior, sendo apenas contidas pela cueca branca que usava. No escritório/cozinha, tentara se sentar com delicadeza, para impedir que a situação fosse ainda pior. Mas de nada adiantou. Quando se sentou, sentiu o excremento macio sendo apertado de encontro a sua bunda e espalhando-se em contato com o períneo e testículos. O odor foi quase que imediato. Sentado à sua frente, se Bazé sentia o cheiro, não o demonstrava de forma alguma.

- Então filho, o que é isso na sua mão? – indagou Bazé, levando a latinha de cerveja à boca.

Matheus olhou para a mão e lembrou-se que carregava o seu currículo e demais documentos. Disse para Bazé do que se tratava. Bazé pediu que lhe entregasse seu currículo. Pegando o currículo da mão de Matheus, Bazé tirou do bolso um isqueiro e queimou-o, sem sequer lê-lo, para estarrecimento de Matheus.

- Tu já matou? – perguntou Bazé.

- Não senhor.

- Já roubou?

- Não senhor.

- Tem passagem?

- Não senhor.

- Tu sabe usar uma arma?

- Não senhor, mas tenho interesse em aprender.

A bofetada pegou-o de surpresa. Sempre ouvira em palestras que, quando não tivesse experiência em algo, deveria demonstrar ao entrevistador que tinha interesse em aprender. Aparentemente, Bazé não gostara da resposta.

- Nunca mais repita isso, filho! – disse Bazé, em tom admoestador, mas sem erguer o tom de voz. E após uma pausa – Tu usa droga? Tem algum vício?

- Não senhor. Não senhor.

- Ótimo. – Bazé sorriu. Em seguida, levantou-se e começou a andar pelo pequeno escritório/cozinha. – Filho, eu gostei de você. Pra mim o cara tem que ter muito sangue frio e muito peito pra cagar, sentar em cima e fingir que ninguém percebeu. – Matheus enrubesceu. – Porém eu preciso fazer um teste contigo, pois preciso que tu me dê uma prova do teu valor, de que pode trabalhar pra mim. Tu topa fazer o teste?

- Sim senhor.

- Nunca mais me chame de senhor! – gritou Bazé, ao mesmo tempo que desferia nova bofetada em Matheus. Este sentiu que sua cabeça iria explodir, tamanha a força empregada na bofetada que recebera. Em seguida, numa súbita mudança de temperamento, Bazé disse sorrindo, com a voz mais mansa do mundo – Me chame de Bazé.

- Sim, Bazé. – falou Matheus, lutando contra a vontade de levar a mão para massagear a face atingida.

- Outra coisa importante: aparência! Se tu for trabalhar pra mim, precisa ter aparência. Olhe só para você, como está ridiculamente vestido! O que é que vão dizer de mim, se virem que um cara que trabalha pra mim se veste desse jeito? Trate de mudar de roupas para o teste.

- Sim se... Sim, Bazé. – disse Matheus, corrigindo-se a tempo.

- Ótimo. O teste será bem simples. Tu vai pegar uma arma e vai ter que fazer uns assaltos. Não me importa quem tu vai assaltar, desde que não seja alguém aqui das minhas quebradas. O importante é que tu levante 500 pilas pra mim até meia-noite. O Cotó e o Fósforo vão te emprestar uma arma pra tu poder trabalhar. Eles também vão te seguir e te vigiar pra ver se tu não tá trapaceando. Depois eles vão me contar como foi tudo. Tu tem até meia-noite pra voltar com pelo menos 500 pilas aqui, em dinheiro ou em produtos. Boa sorte.

- Obrigado. Prometo não decepcioná-lo, Bazé. – disse, Matheus.

- Mas é um viado mesmo... – disse Bazé consigo mesmo. – Ok filho. Mas antes trate de tirar essa merda de roupa.

[CONTINUA]

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