sexta-feira, 25 de novembro de 2011

As Chinelas de Indiana Diones

... ou "Sapatos - Parte II"

antes de ler o conto que segue-se, certifique-se de ter lido a primeira parte deste, que pode ser encontrada aqui, e não aqui. e muito menos aqui.
após o inesperado sucesso da primeira parte de "sapatos" (do original "shoes", escrito em sua maioria em 1996), venho agora a este blog (recusando diversas ofertas de editoras nacionais, assim como recusei a várias editoras internacionais em 1996) publicar a segunda parte da quadrilogia original (publicada em 1997 pela companhia das letras), e avisar que a próxima (que será a última) parte ainda não foi escrita (e nunca será). agradeço a todos que esperaram pacientemente (e aos não tão pacientemente assim), e principalmente a Brahma, Vishnu e Shiva, por possibilitarem a existência do universo e desse maravilhoso[1] texto:

a voz de diones aumentava em entusiasmo conforme falava, seus olhos brilhavam, suas sobrancelhas arqueavam e ele sorria. porém carl não compartilhava do mesmo entusiasmo, de forma repentina, sem que eu notasse o momento exato da transição, carl ficou extremamente sério, imóvel, rígido até. seus olhos miravam o rosto de diones com uma expressão impiedosa, como se resistisse ao impulso de agarrá-lo, segurá-lo, para que parasse com aquele discurso, como se algo nas palavras de diones incomodasse sua alma profundamente. mas não foi preciso que carl tomasse qualquer atitude para interromper diones, pois assim que esse percebeu a expressão do amigo, gélida, foi como se houvesse sido contagiado por tal, passando a assumir posição semelhante. conflitante. sim, como se suas mentes estivessem a travar um combate telepático. a conexão de seus olhares parecia exercer uma força magnética, um campo impenetrável ao redor do espaço que os separavam. a situação era hipnótica. eu estava tão absorvido por aquele momentum que quando diones olhou, de forma completamente repentina e imprevisível, para mim, eu não pude reagir. pensei em olhar para o chão, para a igreja, desviar o olhar para qualquer lugar, mas não pude. senti aquela sensação quente subir pelo meu pescoço, rígido, até meu rosto, típica de quando ruborizamos. o olhar de diones era frio, como se me repreendesse, como se me dissesse que eu não deveria estar ali, que eu não fazia parte daquilo, daquele momento, que de certa forma era superior a mim, além de minha compreensão, era como se... isso pode parecer um pouco exagerado, mas... era como se eu corresse perigo, apenas por ousar em continuar ali. confesso que não sei o que teria acontecido comigo, se teria resistido a tal pressão, se aquilo houvesse durado mais um segundo apenas. por sorte, carl o interrompeu, dirigindo-se a ele de maneira inusitada, considerando o momento:

c - vc veio para devolvê-los, não é diones?

digo inusitada pois sua voz era calma, pretensiosamente compreensiva, como que persuasiva. toda aquela tensão se desfez instantaneamente, conforme diones sorriu e disse:

d - sim, claro, deixe-me tirá-los.

diones tirou os sapatos, com certo esforço, e entregou-os a carl, que, justificadamente, assumiu uma expressão de espanto ao olhar para os pés, agora descalços, de diones. creio que não sou capaz de descrever com palavras a repugnância da cena. era como se os pés de diones tivessem sido esmagados por um rolo compressor, as juntas de seus dedos descreviam ângulos agudos para várias direções. não acreditaria se alguém me dissesse que ainda restava algum osso não fraturado nos pés daquele pobre rapaz.

c - seus pés, diones, o que houve? - exclamou carl, confuso.
d - oh, não foi nada, eles vão ficar bem. - diones parecia inexplicavelmente tranquilo.
c - como assim? vc está sangrando!
d - não, não estou não. talvez um pouquinho...
c - como pode? vc não havia percebido nada até agora? não estão doendo?
d - sim, doem um pouco. acho que foram os sapatos que vc me emprestou, eles estavam um pouco apertados.
c - e vc não percebeu isso assim que os calçou?
d - sim, mas... não é nada, o que é isso agora? eu vou ficar bem!

carl ficou em silêncio por um momento, como se estivesse tentando compreender o que estava acontecendo.

d - vc se lembra, carl? quando éramos crianças e costumávamos sair na varanda e no quintal de casa descalços, e mamãe sempre nos repreendia, pedindo que puséssemos nossas chinelas?

houve uma pausa no diálogo, enquanto provavelmente recordavam momentos da infância, após a qual diones se levantou, sem demonstrar qualquer incômodo com a atual situação de seus pés, e tomou a iniciativa de se despedir:

d - bom, tenho que ir, ainda preciso ajeitar minhas coisas antes de partir.

carl levantou-se para se despedir do amigo, mas ainda demonstrava certa preocupação:

c - vc vai descalço até sua casa, diones? vc sabe que é uma boa caminhada até lá.
d - não se preocupe, esses pés já estão calejados de tanto me carregarem por aí.

calejados? não acreditava que ele pudesse ter dito aquilo. mas aquilo não era nada perto do que eu estava prestes a ouvir. carl olhou para os sapatos que carregava e propôs:

c - por que vc não os calça para ir até sua casa, e da próxima vez que for me visitar vc mos devolve?
d - oh, não carl... sério? mas será que me serviriam?
c - ora, por que não experimenta?
d - não sei, que número vc calça?
c - calço 40, usualmente.
d - hum, eu calço 45, acho que ficariam apertados.
c - que pena. gostaria de poder ajudar de outra forma.
d - não se preocupe, vou ficar bem. e outra coisa, se eu os levasse, vc teria que voltar descalço até sua casa, que também não é nada perto, carl.

para minha surpresa, carl também se encontrava descalço, achei que o propósito fosse calçar os sapatos que diones devolvera o quanto antes, porém:

c - quanto a isso não se preocupe, eu não pretendia calçá-los. estes sapatos são de um amigo meu. na verdade, são muito grandes para mim, cerca de cinco números maior dos que eu costumo calçar.

termina aqui a quinta parte da sexologia. em breve postarei a parte 5.1, juntamente com os anais dos reis e governantes.

para vc que não gostou da história, deixo aqui uma imagem de um elefantinho rosa:






[1] "Esse texto está uma merda!" - meu comentário sobre o texto caso eu não fosse seu autor.

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