quinta-feira, 31 de maio de 2012

GTA Brazil


Para as pessoas que vivem nas grandes cidades e já tiveram o privilégio de jogar algum dos games da franquia GTA, poderá notar certa semelhança entre as cidades imaginárias do game e as grandes metrópoles da vida real. E para isto existe uma explicação extremamente simples: as grandes capitais brasileiras, a exemplo das americanas, foram projetadas e construídas inspiradas nas cidades do game GTA.

Quem vive nas grandes cidades sabe como o movimento é intenso. No meu caso, que saí do pequenino condado de Piraju e vim morar na capital tupiniquim, percebo com maiores detalhes as discrepâncias entre um município interiorano e uma capital. Aqui, tal como no GTA San Andreas, o tempo todo está acontecendo algo. De início, quando eu jogava GTA, achava que só estavam acontecendo coisas onde eu estava, quando de repente, para minha surpresa, pude notar motoristas barbeiros batendo e derrubando os postes de energia elétrica, policiais atirando contra supostos bandidos, atropelamentos estapafúrdios, pessoas caindo no rio e morrendo afogadas (ou com o impacto do corpo contra a água, não tenho muita certeza). Fato é que a cultura na cidade grande é semelhante a do jogo, pois sempre que estou nas regiões mais movimentadas de Brasília, vislumbro pessoas correndo como loucas para atravessar a rua quando o semáforo abre, motoristas buzinando e quase batendo seus carros uns contra os outros.

Isto sem falar dos acidentes. Ontem mesmo eu estava preso dentro de um busão, no engarrafamento típico do início da noite, quando vejo na faixa contrária uma viatura do corpo de bombeiros parada socorrendo um motociclista acidentado. Logo atrás, outra viatura socorria outro acidentado, creio eu que a segunda pessoa que acidentou-se juntamente com o indivíduo anterior. Mas o mais incrível foi que, depois do ônibus andar uns 50 metros (o que deve ter levado quase uma hora), havia outro acidente na pista contrária, ou seja, o indíce de acidentes ali é altíssimo. Detalhe: tinha acabado de começar a chover. A chuva mal começara, e com ela também vieram os acidentes. Ah, e por falar em chuva, em cidade grande, quando começa a chuviscar, a pista já fica totalmente molhada. Se chove um pouco mais forte, percebe-se os primeiros acúmulos de poça (o suficiente para encharcar tênis e meia de qualquer pedestre, ou de molhá-lo por inteiro, quando um motorista ignorante faz a água espirrar por cima dos pedestres, como uma tsunami). E se chove forte, como costuma acontecer de vez em quando, pode preparar os barcos, pois a cidade fica completamente alagada, a água ficando na altura do pulso da mão (considerando a mão levantada em linha reta acima da cabeça).

Outra coisa que eu acho interessante são os policiais daqui de Brasília. A formação social da população brasiliense é totalmente diferente. Pra começar, as pessoas são mais mal humoradas. O cobrador do ônibus nunca te dá bom dia ou um obrigado - eles não têm tempo para perder com isso. Também pudera, se eles fossem dirigir a palavra a cada pessoa que eles atendessem, não fariam outra coisa senão dizer bom dia. Aqui ninguém perde tempo com nada. Se um passageiro senta do lado do outro, eles não conversam. Aqui o pessoal tem juízo. Ninguém fica jogando conversa fora. Ninguém ta afim de levar uma facada na boca. Mas voltando aos policiais - estou divagando -, o fato da cidade ter uma outra formação social, faz com que o comportamento dos policiais difira e muito dos seus companheiros de corporação que atuam numa cidade pequena. Em Piraju, além da demanda de trabalho ser pequena para policiais, as piores coisas que lhes acontece é ter que retirar o gato de cima de uma árvore, juntamente com a ajuda do corpo de bombeiros; ou ainda, os policiais interioranos encontram e lidam com alguns vagabundos, e algumas raras vezes, um bandido de verdade. Já aqui em Brasília não: a polícia está o tempo todo com o sinal de alerta ligado. Eu mesmo quando estou voltando da faculdade e desço do ônibus, sou obrigado a cruzar com uma viatura da polícia, abordando três indivíduos, estes com as mãos na nuca, sob comando da frota policial. Eu fico imaginando como deve ser a adrenalina de ser policial em cidade grande. Por exemplo, se um bandido apontar um revolver pra minha cara ou pro meu peito, provavelmente eu vou sentir medo e nervosismo. Creio que terei a consciência de que tudo poderá acabar naquele momento, se eu fizer um movimento brusco, ou se acidentalmente o bandido pressionar o gatilho e estourar a minha cara com o impacto do projétil. Então o policial deve se sentir com uma adrenalina parecida, pois como a cidade é grande e tem muita gente, ele não conhece ninguém, e nunca sabe quem é o cidadão de bem e quem é o bandido - se bem que eles devem farejar o perigo iminente. Em todo caso, eles sabem que estão ali para matar ou morrer, assim como os bandidos. Então, partindo desse raciocínio, creio que eu já fui um bandido na mente de alguns policiais aqui de Brasília e, talvez vou até mais longe com isso: um desses policiais até fez suas preces finais, achando que eu iria tirar-lhe a vida, ou oferecer-lhe uma dose de abacaxi (o que vai contra os meus princípios).

Os bandidos também são uma atração a parte aqui em Brasília. As inúmeras gangues que existem aqui estão tentando dominar a cidade, cumprindo o maior número de missões que forem capazes, conquistando o maior número de territórios possíveis aqui em Brasília, e tentando pichar a cidade inteira. Cada gangue tem suas características que a diferenciam de todas as outras, que vão desde a tonalidade da pele (menos preta, mais preta ou ainda mais preta), as indumentárias, a cor da pele, os trejeitos e até mesmo a cor da pele. Brasília, como já dito, possui um trânsito muito carregado, pois a média de Brasília é de três veículos por habitante. E o mais impressionante é que nos horários de pico, onde todo mundo resolveu sair de carro, tem pelo menos duas pessoas em cada carro. Na boa pessoal, quem ta dirigindo todos esses carros?

Com uma frota tão grande, é compreensível porque o mercado da delinquência esteja num crescendo. Dados estatísticos apontam que a cada dia pelo menos três pessoas começam a delinquir, partindo para a formação na vida do crime. E a expectativa é que o mercado brasiliense consiga absorver todos estes profissionais do segmento criminoso. Numa proporção bem menor, formam-se os policiais, que como já dito, garantem a segurança de todos nós. Os bandidos, que também já jogaram GTA (faz parte da formação teórica deles como criminosos), sabem que para cumprir determinadas missões precisam de dinheiro para custear as armas, granadas, coletes à prova de balas e até mesmo outros acessórios. Então, como qualquer pessoa normal, eles procuram um jeito de conseguir esse dinheiro para iniciar seu negócio. O jeito que encontram é inspirado na excelente formação que tiveram em GTA: roubando um táxi e fazendo algumas corridas (ou ainda, aqui tem uma outra modalidade, que é a do transporte pirata), roubando um carro de polícia e fazendo missões como policial, matando seus iguais, ou ainda utilizando do método clássico e preferido por aqui: espancando até a morte com um taco de beisebol o primeiro idiota que aparece a sua frente na rua e torcendo pra ele ter dinheiro.

Enfim, esse assunto é muito longo e não quero me estender mais, por isso o encerro por aqui, enquanto ainda estou por cima.

Um típico policial de Brasília.

 Vem aí: GTA Brasília! Mais uma promessa de sucesso de vendas 
de um produto desenvolvido pela Rockstar Games.

Ryder sobre ele mesmo: "Shit, CJ! Shit!"

Cenas exclusivas de como será o novo jogo, divulgadas pela Rockstar com
exclusividade para o Pragenterir: gráficos mais realistas, som ambiente perfeito
e possibilidade ilimitada de movimentos dos personagens. O jogo GTA Brazil contará
com três cidades: San Pablo, Rio de Febrero e Braziléia (em destaque no vídeo).

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Lei de Murphy e o Problema do Pão


Se alguma coisa pode dar errado, dará.

Esta famosa frase, enunciada por um antepassado do Eddie, ficou famosa como sendo a Lei de Murphy. Especialistas da área do Direito dizem que a Lei de Murphy é uma das poucas leis que funcionam integralmente no Brasil, perdendo apenas para a Lei da Gravidade e para a Lei T'amento. A Lei de Murphy, ou simplesmente A Lei, preconiza que as coisas tendem a dar errado, ou seja, se tiver algum jeito de você se ferrar, não se preocupe em tentar evitar tal situação, porque isso irá acontecer inevitavelmente.

Já o segundo enunciado dA Lei, que também é interessante, diz: se para desempenhar determinada atividade, houver quatro maneiras dessa atividade dar errado e você sabiamente prever as quatro e se precaver para que nenhuma delas aconteça, surgirá uma quinta maneira inesperada e sua atividade dará errado.

Este enunciado complementa o primeiro, dizendo que não importa o nível da sua precaução, pois se for pra dar errado, dará de qualquer jeito. Baseado nisso, após muita reflexão, eu elaborei um problema que ilustra de maneira simples como a Lei de Murphy funciona. Observe abaixo o caso hipotético deste problema, aclamado pela comunidade científica:

Você está chegando em sua casa, após voltar do trabalho, da escola, da acadêmia, do Pirabar ou de qualquer outro lugar. Você está cansado e faminto e pretende comer pão, mas lembra-se que o pão acabara no café da manhã. Então você pensa: é simples, vou passar na padaria da esquina para comprar alguns pães e o problema está resolvido.

Mas você se esqueceu de algo, caro leitor... não estamos falando de qualquer problema. Estamos falando do Problema do Pão. E é aí que surge o paradoxo: você fica na dúvida se algum outro morador de sua casa já comprou os pães. Lembro ao leitor que você está faminto, e morto de cansaço. Fazendo uma citação shakespeareana: Comprar ou não comprar pão? Eis a questão.

Analisemos as duas opções e as desvantagens de cada uma (nenhuma delas possui vantagem real): se você comprar pão, quando chegar em casa, corre o risco de constatar que algum outro morador já comprou o bendito pão. Nesse caso, vocês serão obrigados a comer pão duro, velho e com bolor por alguns dias, já que foi comprado um número de pães maior do que seu clã costuma consumir. Ou ainda, podem jogar fora os pães excedentes, mas isso não elimina o desperdício do dinheiro e consequente sucesso da Lei de Murphy.

E por último, mas não melhor, nós temos uma segunda opção: não comprar os pães e ir para casa, na esperança que alguém já tenha comprado. Obviamente, neste caso, você irá constatar que ninguém comprou pão e você irá morrer de fome, pois suas energias não são suficientes para voltar até a padaria comprar os pães. Tal como aqueles jogos de corrida de carro, se você se aventurar a ir até a padaria, ficará no meio do caminho, por falta de combustível.

A conclusão do Problema do Pão, por mim proposta, já foi analisada por diversos filósofos, e uma tese foi elaborada pelo norueguês Jostein Gaarder, autor de um tal de "O Mundo de Sofia". Ele diz que não importa qual decisão o sujeito tome nesse problema, pois tomando a Lei de Murphy como verdade absoluta, independente da decisão no Problema do Pão (e em qualquer outro problema na vida) o universo dará um jeito de fazer sua decisão ser a errada. Segundo ele, o pão ter sido comprado ou não por outra pessoa não é um fato consumado e independente do restante do problema, mas sim uma consequência da decisão do indivíduo. Jostein Gaarder afirma haver uma relação de causalidade entre os eventos, sendo que, ao contrário do que estamos acostumados, o evento primeiro é o efeito e o evento último é a causa. Gaarder recebeu muitas críticas por sua teoria, por não explicar a relação de causalidade invertida que propôs. Muitos consideram que há uma lacuna em sua explicação, mas, como nenhuma teoria melhor surgiu até então, essa vem prevalecendo entre a comunidade científica.

Outro claro exemplo de algo que acontece com frequência em nosso cotidiano, que tem a mesma base do Problema do Pão, é relacionado a previsão meteorológica. Observe que quando você sai munido de três blusas de frio, duas calças (a do pijama por baixo) e guarda-chuva, faz um sol de rachar. E quando você sai de casa com uma camiseta regata, shorts, chinelas e até mesmo tendo passado protetor solar, cai um dilúvio de 40 dias e 38 noites em sua cidade, contrariando a previsão do tempo do jornal. Mais uma vez, a previsão é apenas o efeito de uma relação cuja causa é a maneira como você sai de casa.

Tais raciocínios me fizeram lembrar de um pensamento de um grande amigo murphyano meu, e é com uma paráfrase deste pensamento que encerro minha postagem.

"No jogo de Winning Eleven, quando estiver jogando contra a máquina, não importa o que você faça, não importa o tamanho de sua habilidade, não importa o nível de seu empenho e de sua concentração, você irá tomar gol de qualquer jeito. [...] Chegar ao gol adversário é fácil, fazer gol é difícil. Marcar (os jogadores adversários) é fácil, não tomar gol é impossível."

Representação simbólica de uma possível personificação da Lei de Murphy.

 Algumas pessoas vivenciam cenas cômicas por causa da Lei de Murphy...


... já outros se ferram pra valer por causa dela. Na imagem acima,
foto de Marlon Brandon Lee, ator que morreu durante uma cena no filme "O Corvo",
seu penúltimo trabalho como ator. A causa mortis foi a Lei de Murphy.