Olá
fieis seguidores do Pra Gente Rir! Cá estou após dar um chá de sumiço em muita
gente. Devido a correria do dia a dia, não tive tempo de escrever mais nada -
nem vontade. No entanto, o acúmulo de ideias fez com que eu tirasse uma meia
horinha para tentar produzir algo. Não posso dizer que é meu melhor texto
(tenho muitos outros que prefiro em detrimento deste), mas é uma tentativa de
retomar uma escrita em estilo nonsense. O humor ainda não é o ideal, pois
existem algumas lacunas, longos espaçamentos entre uma piada e outra. Ainda
assim, estou satisfeito de voltar a escrever algo no estilo de "Negócio
que faz Bebês", "Abacaxis", "O Ascensorista" e
"Prieto". A inspiração deste texto veio da série brasileira "Os
Aspones". Coincidências no estilo humorístico não é por acaso. Espero que
(alguém) gostem.
PILOTO
Era
uma vez, num lugar longínquo, no extremo Sul do Universo, na Galáxia de Tão,
Tão Distante, um planeta pequenino no tamanho, mas grandioso no calor desumano.
Sua dinâmica de funcionamento é muito parecida com a de nosso amado planeta,
salvo por algumas diferenças, que irei enumerando conforme necessário. A mais
importante delas, no entanto, é que este planeta só possuía três dias: domingo,
segunda e sexta.
Então,
passemos algumas informações sobre o planeta. Como já mencionado, o planeta
possui calor desumano. Isso mesmo, ele é habitado por seres desumanos - seres
muito parecido conosco, diferenciando-se por serem mais amáveis, respeitosos e
altruístas. A população total, segundo o último Censo realizado pelo SINEP, é
de 1 milhão de habitantes. Apesar do reduzido número, devido as proporções do
planeta, ele está relativamente cheio. E com sua população mal distribuída.
Cerca de 100 mil pessoas vivem na zona rural, com espaço de sobra. Já na cidade
grande, vivem apertadamente as outras 900 mil pessoas.
O
planeta possui apenas um único país, sendo que este é governado pelo Rei Atoidy
- vida longa ao Nosso Amado Rei. No entanto, exceto pelo fato da coroa ser
passada de pai para filho, a estrutura política de funcionamento do planeta que
só tem três dias é bem semelhante a do Brasil, ou seja, temos as repartições
públicas. E é numa delas que iremos verificar a primeira história desta
narrativa épica.
A
repartição pública em questão é a do Secretaria Internacional e Nacional de
Estatística Populacional (SINEP), que apesar de ter o nome meio confuso, é
fácil de entender qual sua função no planeta: a de empregar inúmeras pessoas
que não irão fazer merda nenhuma. Como o Rei Atoidy - vida longa ao Nosso Amado
Rei -, costuma reduzir gastos para enriquecer às custas do corte de pessoal e
exploração dos funcionários, a repartição é minúscula, e está alocada junto ao
Ministério dos Porcos e das Embaixadas Internacionais (que por sua vez, fica ao
lado do Ministério das Estalactites, Estalagmites e da Comunicação). Vejamos agora,
sem mais delongas, como é um dia de trabalho no SINEP.
Dois
homens estão sentados junto às suas respectivas escrivaninhas, tendo à sua
frente um computador e muitos papéis empilhados. Ambos os homens, de
aproximadamente 115 anos (aproximadamente 50 anos na Terra), vestem camisas
pólo, com os botões abertos e a parte superior dos peitos flácidos e cabeludos
à mostra. Um deles, o de cabelo grisalho, está com fone de ouvido, escutando
uma música enquanto "trabalha". O outro, de cabelo preto, mas com uma
enorme calvície na parte superior da cabeça, está com ar de enfado. Descansa a
cabeça com o queixo apoiado numa das mãos, enquanto com a outra olha as últimas
notícias ridículas no site do YAIOO. A porta se abre abruptamente, para espanto
do calvo, que salta na cadeira como se levasse um choque, voltando a uma
posição ereta, ao mesmo tempo em que pega um bloco de papéis e o bate sobre a
mesa, fingindo estar no meio da execução de uma importante tarefa. Quando
percebe que é apenas o Seu Zé, o funcionário da limpeza, reclama:
-
Caramba cara, você me deu o maior susto! Eu pensei que fosse o baixinho! - diz
o calvo, referindo-se ao chefe da repartição. O homem grisalho continua
tranquilo, pois não percebera que Seu Zé entrara, devido a música que escutava
no fone de ouvido.
-
Descurpa Gerardo. Ah, e o chefinho nem vem hoje. - diz Seu Zé. - Esqueceu que
ele tem folga toda última sexta-feira do mês?
-
É verdade, você tem razão, Al! Eu nem tinha dado por mim que hoje era sexta! -
Geraldo levanta-se e bate no ombro do colega com fone de ouvido. Finalmente,
ele tira o fone de ouvido, dando pela presença de Geraldo e Seu Zé próximo a
ele.
-
O que foi? - indaga o homem de cabelo grisalho.
-
Você nem me disse que hoje era sexta-feira, Moacir! - reclamou Geraldo, em tom
de brincadeira.
-
E é? Nossa, eu tinha me esquecido completamente...
-
Como essa semana passou rápido, né pessoar? - disse Seu Zé, com a vassoura
encostada nas pernas, enquanto enxugava o suór com um lenço surrado que tirara
do bolso do macacão. - Parece que foi onti memo que a semana tava começano...
-
É verdade... Não é mole não, pessoal... - disse Moacir, com aquele ar típico do
trabalhador sofredor, resignado com as dificuldades da vida.
-
Hey, hoje é sexta-feira, sabem o que isso significa? - disse Geraldo. Nem
esperou pela resposta dos colegas. - Significa que hoje é dia de enforcar o
trabalho mais cedo!
-
Ah muleque! - disse Moacir, mostrando um sorriso cheio de dentes amarelados,
assim como seu bigode de fumante.
-
Deus abençoe o Rei Atoidy - vida longa ao Nosso Amado Rei! - exclamou o
tiozinho da limpeza.
Mas
para quebrar a harmonia que pairava sobre o SINEP, eis que alguém bate à porta
da repartição, para angústia dos três funcionários, especialmente de Geraldo e
Moacir, responsáveis pelo atendimento.
-
Meu Pai amado! O quem será uma hora dessas? - diz Moacir, começando a acumular
marcas de suór na região das axilas.
Sem
responder, Geraldo toma a iniciativa e vai até a porta, abrindo-a.
Surpreende-se ao se deparar com a mais linda mulher que já vira na vida.
Elegantemente vestida, demonstrando uma grande força de espírito e uma
autonomia invejáveis, ela anunciou-se antes que Geraldo proferisse palavra:
-
Olá, bom dia. Meu nome é Rebeca e eu sou a nova funcionária do setor.
"É
claro, a nova funcionária!",
lembrou-se Geraldo. O chefinho tinha falado sobre ela, mas ele se esquecera
completamente. Retomando a sobriedade, ele pediu para que Rebeca entrasse.
Foram até a extremidade da sala, acompanhados de Seu Zé e Moacir. Os quatro
sentaram-se ao redor da mesa, para uma pequena e solene reunião na repartição.
-
Esqueci de me apresentar, Rebeca. Meu nome é Geraldo.
-
Caraca! Toda repartição pública tem um Geraldo, é incrível! Na antiga
repartição que eu trabalhava, tinha um Geraldo! O Seu Geraldo Moacir. O cara
tem os dois nomes de velho mais comuns do mundo! - disse Rebeca, destituindo-se
de seu ar sério e agindo escandalosamente.
-
Meu nome é Moacir. - disse Moacir, após pigarrear, em tom de vergonha ante
aquela bola fora que Rebeca acabara de dar.
-
Ih, vocês só podem estar de brincadeira comigo! Agora só falta você me dizer
que seu nome é Zé. - diz Rebeca, olhando para o homem da limpeza.
-
Seu Zé ao seu dispor, senhorita. - diz ele, com um largo sorriso, sem entender
o constrangimento da situação.
-
Onde você trabalhava antes, Rebeca? - pergunta Moacir, que com o rabo do olho
observa o largo decote de Rebeca.
-
Eu trabalhava na ANAX, Agência Nacional Anti Xenofobia, mas ela fechou semana
passada.
-
Não diga! Sério? Mas é uma pena, vai fazer tanta falta... - comenta Moacir,
tentando parecer simpático.
-
É mesmo. - diz Rebeca, abaixando a cabeça, em tom singelo de tristeza.
Geraldo,
imbuído de sua liderança, rompe o silêncio e a tristeza que começara a se
abater sobre o grupo iniciando o seu discurso.
-
Bom Rebeca, também sinto muito pela extinção da ANAX, mas creio que você será
muito feliz aqui. A SINEP é um lugar muito sério e extremamente importante para
o bom funcionamento de nosso país-planeta. Não sei se você teve o privilégio de
ver, mas recentemente o Rei Atoidy - vida longa ao Nosso Amado Rei - fez um
discurso e rasgou elogios a nossa repartição, citando a suma importância que
ela tem dentro deste Ministério. Seu trabalho será muito cansativo, algumas
vezes beirando à exaustão. Mas no final, creio que você se sentirá recompensada
por ver os frutos deste belo trabalho que fazemos por aqui.
-
E o que fazemos por aqui? - perguntou Rebeca, curiosa.
Sentindo
o rosto afoguear-se de rubor ante aquela pergunta inesperada, Geraldo teve
sangue frio para contornar a situação adversa.
-
Já já chegaremos lá, meu bem. Como eu dizia, você trabalhará aqui todas as
semanas, no verão ou no inverno, faça frio ou faça calor, com sol ou com chuva,
do início da manhã até o final da tarde, de segunda à sexta...
-
Ei, ei, peraí! - interrompe abruptamente Rebeca.
-
O que foi pepeca?, digo Rebeca. - diz Moacir, quase babando na mesa, ainda com
o olhar fixo nos seios de Rebeca e imaginando o que gostaria de fazer com eles.
-
É que eu não posso trabalhar nas sextas-feiras.
-
E por que não? - indaga Geraldo, levemente irritado com aquela petulância.
-
É porque eu sou adventista.
-
Adventista?
-
Isto. Eu faço parte da Congregação da Igreja Adventista do Terceiro Dia. E
dentro de nossa doutrina, eu não posso trabalhar nas sextas-feiras.
-
Mas o terceiro dia não é domingo? - pergunta Seu Zé, ignorante como só ele.
-
Popularmente sim, Seu Zé. Mas na verdade, a semana começa no domingo, sendo que
a sexta-feira é o terceiro dia. - explicou Rebeca.
-
Ah ta, é que eu sempre se confundo. - diz Seu Zé, cometendo um solecismo. -
Nunca intindi esse negóço. Pruquê é qui colocaro sexta-feira? Só pra confudir a
cabeça da genti memo.
-
É por causa daquela música do Zezeca Amargo e Lucio Ânus, "Hoje é
Sexta-feira". - explicou Moacir, que estava ouvindo aquela música há
minutos atrás, quando estava na sala apenas com Geraldo.
-
Enfim, continuando... - interrompe Geraldo, irritado com as constantes
interrupções - Rebeca, meu bem. Você tem que entender que isso aqui é coisa
séria. Aqui não é casa da mãe Joana não. Aqui você tem que trabalhar. E se você
não vier nas sextas-feiras, a tendência é só o serviço se acumular.
-
Mas eu sou amparada por lei! A lei assegura que é direito meu guardar a sexta-feira
conforme minha religião preconiza. E eu tenho que ser remunerada por isso! -
afirma Rebeca, em tom incisivo.
-
Rebeca, mas é que todo esse trabalho...
-
Afinal qual é o trabalho que vocês fazem aqui? Até agora você não me disse qual
é, Seu Geraldo.
-
É mesmo Geraldo, você ainda não nos disse qual é o trabalho que fazemos aqui! -
diz Moacir, fazendo coro a Rebeca.
-
É memo Gerardo! - reforçou Seu Zé.
Geraldo
suava em bicas. Os três olhavam para ele. Um olhar fulminante, que esperava por
uma resposta. E ele, por ser o mais experiente do setor, ficara responsável por
responder aquela difícil pergunta. "Que
droga, bem que o chefinho podia estar aqui hoje!", pensou
Geraldo. E finalmente, entregou os pontos, dizendo:
-
Pelo amor do Rei Atoidy - vida longa ao Nosso Rei! Quem sou eu para questionar
a lei? Ok Rebeca, você terá a sexta-feira livre!
E
eis que os três - Rebeca, Moacir e Seu Zé - comemoraram em uníssono,
aplaudindo, abraçando-se e cumprimentando-se, ante aquela vitória conquistada
por Rebeca, graças à união do trio.
Sentindo
enorme desconforto por ver que os três estavam mancomunados contra ele num
motim. Assim que a festinha terminou, Geraldo disse:
-
Rebeca, creio que você veio hoje só para confirmar os pontos mais importantes,
mas não ficará para o trabalho, certo?
-
Exatamente, Seu Geraldo. Como hoje é sexta, não posso ficar.
-
Então te vejo segunda-feira que vem?
-
Fora a essa, na próxima. - disse Rebeca com um movimento de mão, para surpresa
de Geraldo. - É que segunda-feira que vem é feriado. É dia do servidor público.
E
eis que os três voltaram a comemorar, deram as mãos e começaram a dançar uma
ciranda, enquanto Geraldo se retirava da sala, dirigindo-se ao banheiro para
vomitar seu café da manhã.
[CONTINUA?]