Uma postagem sobre a festa da democracia.
No último domingo, 06/10/2024, realizou-se o primeiro turno das Eleições Municipais 2024. Sim, óbvio que é "Municipais 2024". Elas foram realizadas em 2024! Se bem que as Olimpíadas Tóquio 2020 foram realizadas em 2021, por conta de um tal de "coronavairus". Mas não é sobre as Olimpíadas, nem sobre o "vairus" que eu quero falar hoje. Estou apenas entrando em uma digressão.
Neste post, faço um breve comentário sobre o segundo candidato mais querido das eleições. Antes que você, caro leitor, questione quem é o segundo candidato mais querido das eleições, eu preciso dizer que não se trata de uma pessoa específica. Pelo contrário, uso o termo para me referir a um arquétipo, isto é, a uma figura popularesca que provavelmente pode ser encontrada em diversos municípios do país. Arrisco-me a dizer que tal personagem está mais presente nas cidades interioranas, onde todo mundo se conhece, como é o caso do pobre autor deste post.
O fato fundamental sobre o segundo candidato mais querido das eleições, e que pode surpreender os mais românticos, é que ele não se elege. Suponha que fizéssemos a seguinte consulta popular após o primeiro turno das eleições: "se você não tivesse votado no candidato que você votou para vereador, em quem você votaria?"
A resposta majoritária a essa questão é um excelente indicador do segundo candidato mais querido das eleições. Por definição, o segundo candidato mais querido das eleições é aquele que todo mundo desejaria que ganhasse uma cadeira na Câmara Municipal da urbe, mas não a ponto de depositar seu próprio voto no pleiteante a vereador.
Acontece que, em pequenas cidades, todo mundo se conhece. Invariavelmente, uma pessoa gostaria de depositar seu voto para vereador em mais de uma boa alma. Todavia, no momento da decisão, o segundo candidato mais querido das eleições é preterido por muitos eleitores, o que faz com que ele não atinja quórum para ganhar o tão desejado trono no legislativo.
Considere o seguinte exemplo hipotético. Mario é boa praça, simpático e sempre disposto a ajudar os membros de sua comunidade. Ele se candidata a vereador. No entanto, dona Ana, apesar de ter Mario em alta conta, acaba depositando seu voto no Aldair da Mercearia, marido de sua sobrinha. "Afinal, família é família. Sacomé, né?", justifica-se dona Ana.
Esse mesmo causo se repete inúmeras vezes. É a irmã Severiana que simpatiza muito com o Mario, mas que precisa votar no diácono da igreja, o Crébinho da Reciclagem, para quem o pastor atua como principal cabo eleitoral. É a jovem Helena que, apesar de já ter sido beneficiada pela generosidade do Mario em algumas ocasiões, também tem uma dívida de gratidão com o Delegado Romeu, que foi fundamental para facilitar a cirurgia do pai de Helena.
Mario, embora também distribua suas benesses aos munícipes, tende a apresentar atos de generosidade considerados "de menor impacto", em comparação aos atos de algum outro candidato. E assim, de voto em voto, Mario vai vendo as vacas dos vizinhos engordarem, e a sua ficando à míngua. "Em 2028 tento novamente", lamenta-se o segundo candidato mais querido das eleições.
Quando sai o compilado dos vencedores do pleito eleitoral, a cidadela avalia os nomes e tece comentários. "Nossa, a Fátema do Açougue foi reeleita?", "Eu não acredito que aquela imundícia do Moaçyr do Bairro das Flores foi o mais votado da cidade!", "Ai, mas o Mario é tão bonzinho, que pena que não entrou...". Quem lamenta pelo Mario não ter entrado, evidentemente, deve ter votado no Aldair da Mercearia, no Crébinho da Reciclagem, no Delegado Romeu, na Fátema do Açougue, no Moaçyr do Bairro das Flores ou na puta que te pariu. Exceto no Mario.
Agora sim, até o ano que vem. =)