quinta-feira, 10 de outubro de 2024

O segundo candidato mais querido das eleições

Uma postagem sobre a festa da democracia.

No último domingo, 06/10/2024, realizou-se o primeiro turno das Eleições Municipais 2024. Sim, óbvio que é "Municipais 2024". Elas foram realizadas em 2024! Se bem que as Olimpíadas Tóquio 2020 foram realizadas em 2021, por conta de um tal de "coronavairus". Mas não é sobre as Olimpíadas, nem sobre o "vairus" que eu quero falar hoje. Estou apenas entrando em uma digressão.

Neste post, faço um breve comentário sobre o segundo candidato mais querido das eleições. Antes que você, caro leitor, questione quem é o segundo candidato mais querido das eleições, eu preciso dizer que não se trata de uma pessoa específica. Pelo contrário, uso o termo para me referir a um arquétipo, isto é, a uma figura popularesca que provavelmente pode ser encontrada em diversos municípios do país. Arrisco-me a dizer que tal personagem está mais presente nas cidades interioranas, onde todo mundo se conhece, como é o caso do pobre autor deste post.

O fato fundamental sobre o segundo candidato mais querido das eleições, e que pode surpreender os mais românticos, é que ele não se elege. Suponha que fizéssemos a seguinte consulta popular após o primeiro turno das eleições: "se você não tivesse votado no candidato que você votou para vereador, em quem você votaria?"

A resposta majoritária a essa questão é um excelente indicador do segundo candidato mais querido das eleições. Por definição, o segundo candidato mais querido das eleições é aquele que todo mundo desejaria que ganhasse uma cadeira na Câmara Municipal da urbe, mas não a ponto de depositar seu próprio voto no pleiteante a vereador. 

Acontece que, em pequenas cidades, todo mundo se conhece. Invariavelmente, uma pessoa gostaria de depositar seu voto para vereador em mais de uma boa alma. Todavia, no momento da decisão, o segundo candidato mais querido das eleições é preterido por muitos eleitores, o que faz com que ele não atinja quórum para ganhar o tão desejado trono no legislativo.

Considere o seguinte exemplo hipotético. Mario é boa praça, simpático e sempre disposto a ajudar os membros de sua comunidade. Ele se candidata a vereador. No entanto, dona Ana, apesar de ter Mario em alta conta, acaba depositando seu voto no Aldair da Mercearia, marido de sua sobrinha. "Afinal, família é família. Sacomé, né?", justifica-se dona Ana.

Esse mesmo causo se repete inúmeras vezes. É a irmã Severiana que simpatiza muito com o Mario, mas que precisa votar no diácono da igreja, o Crébinho da Reciclagem, para quem o pastor atua como principal cabo eleitoral. É a jovem Helena que, apesar de já ter sido beneficiada pela generosidade do Mario em algumas ocasiões, também tem uma dívida de gratidão com o Delegado Romeu, que foi fundamental para facilitar a cirurgia do pai de Helena. 

Mario, embora também distribua suas benesses aos munícipes, tende a apresentar atos de generosidade considerados "de menor impacto", em comparação aos atos de algum outro candidato. E assim, de voto em voto, Mario vai vendo as vacas dos vizinhos engordarem, e a sua ficando à míngua. "Em 2028 tento novamente", lamenta-se o segundo candidato mais querido das eleições.

Quando sai o compilado dos vencedores do pleito eleitoral, a cidadela avalia os nomes e tece comentários. "Nossa, a Fátema do Açougue foi reeleita?", "Eu não acredito que aquela imundícia do Moaçyr do Bairro das Flores foi o mais votado da cidade!", "Ai, mas o Mario é tão bonzinho, que pena que não entrou...". Quem lamenta pelo Mario não ter entrado, evidentemente, deve ter votado no Aldair da Mercearia, no Crébinho da Reciclagem, no Delegado Romeu, na Fátema do Açougue, no Moaçyr do Bairro das Flores ou na puta que te pariu. Exceto no Mario. 

Agora sim, até o ano que vem. =)

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Opiniões impopulares

Um texto em homenagem à amiguinha aniversariante do dia.

Uma opinião impopular é aquela expressa por uma parcela minoritária da população. Ao emitir uma opinião impopular, assume-se o risco de despertar surpresa, vergonha alheia, raiva ou até ideações homicidas em seus interlocutores.

Eis alguns exemplos de opiniões impopulares:

  1. A melhor bebida para acompanhar pizza, pastel e cachorro-quente é obviamente o café (0,1%).
  2. Pandeiristas deveriam se esforçar para aprender a tocar um instrumento de verdade (0,03%).
  3. Ao cruzar com um corintiano em uma rua deserta, suas chances de ser assaltado são maiores que 80%, e de ser esfaqueado, maiores que 50% (0,9%). 
  4. Se uma pessoa se autointitula mãe ou pai de pet, ela certamente tem transtornos mentais (0,9%).
  5. Pablo Picasso pintava mal para um cacete (0,0007%).
  6. O filme Bacurau tem o mesmo valor cultural que uma sacola de fezes (0,0000006%).
  7. Se é para colocar uva-passa no arroz, melhor nem fazer ceia de Natal (0,05%).
  8. Quem alimenta uma conta no Blogspot em pleno 2024 é um idiota (1%).
  9. É melhor ser surdo que ouvir uma música do Gusttavo Lima (0,000000000000000004%).
  10.  Astrologia é uma desculpa para botar o seu fracasso em algum fator extrínseco a você mesmo (0,006%).

Entre parênteses, apresento o percentual de pessoas que apoiam essas ideias (baseado em uma pesquisa metodologicamente rigorosa que eu mesmo conduzi). A lista não é exaustiva, apenas ilustrativa. Além disso, os itens da lista não necessariamente expressam a minha opinião pessoal. Eu sou só o mensageiro.

Aqui, observo que a impopularidade de uma opinião nada tem a ver com sua falsidade. Por exemplo, como bem sabemos, metade dos itens da lista anterior representam a realidade (não direi quais deles, pois não quero emitir explicitamente opiniões impopulares). De maneira complementar, a popularidade de uma opinião não implica que ela está correta. Nesse sentido, o ditado "a voz do povo é a voz de Deus" não tem qualquer valor de verdade. Se o que a maioria acredita fosse verdade, então não haveria grandes chances de um certo psicopata ser eleito prefeito da maior cidade do país no próximo domingo.

Dentro dessa discussão, é preciso diferenciar opiniões impopulares de opiniões canceláveis. Uma opinião impopular, por definição, é aquela que é manifestada por poucas pessoas. No entanto, muitas vezes as pessoas não manifestam uma opinião por medo de serem canceladas. Nesse caso, uma opinião cancelável pode ou não ser impopular. Por exemplo, "a Terra é plana" é impopular, pois ela é tão idiota que quase ninguém acredita nisso de verdade. Mas ela não é cancelável, pois ninguém deveria ser cancelado por acreditar em Papai Noel, no Coelhinho da Páscoa, na Fada do Dente ou no terraplanismo. Afinal, todos sabemos que devemos respeitar a ingenuidade das crianças e dos retardados mentais.

Eventualmente, é impossível diferenciar duas razões para uma opinião impopular: ela é impopular porque ninguém tem aquela opinião versus ela é impopular porque ninguém tem coragem de expressá-la em voz alta. Por exemplo, é improvável que você escute com muita frequência que você é feio, independentemente dessa afirmação descrever ou não a realidade sobre sua diagramação facial. Se você raramente ou nunca escuta essa frase, é porque, por definição, essa é uma opinião impopular. Existem duas possibilidades para esse fato:

  1. Você realmente faz os olhos da maioria das pessoas sangrarem. No entanto, as pessoas escondem esse sentimento. Logo, você é feio, mas quase ninguém tem coragem de expressar essa opinião impopular.
  2. Você é uma pessoa bonita para a maioria das pessoas ou, na pior das hipóteses, nem fede nem cheira. Algumas poucas pessoas te acham feio, e é essa a razão das manifestações esparsas sobre sua aparência. As poucas que te acham feio têm medo de serem canceladas por essa opinião.
Mas como decidir qual é a razão para essa opinião impopular? A ideia básica é buscar pistas em outros sinais verbais ou não verbais. Por exemplo, se as pessoas pedem licença para ir ao banheiro e, em seguida, você ouve sons de vômito, é provável que você seja feio. Por outro lado, se você escuta elogios  frequentes sobre a sua aparência vindos de pessoas que não são da sua família, nem que consumiram doses cavalares de entorpecentes, é provável que você seja uma pessoa bonita (e que os que se calam são os poucos que te acham feio). 

De maneira similar, considere a opinião impopular de que "a música do Gusttavo Lima é uma merda". Quase ninguém vai ter coragem de manifestar essa opinião. Agora, passemos aos shows do Mr. Lima. As pessoas precisam consumir Itaipava (atenção, esse post NÃO É patrocinado!) para conseguir suportar os barulhos do "cantor"? Se sim, esse é um forte indício de que todo mundo sabe que a música dele é ruim, mas usam substâncias que alteram a percepção sensorial para tornar suportável frequentar o show. Afinal, como bem sabemos, o objetivo final desses shows é encontrar alguém para praticar a cópula, vulgo acasalamento.

Agora, se existe uma opinião que não é impopular, é a de que esse blog é maravilhoso. Se você também acredita nisso, faça um PIX para mim (chave: lima.piraju@hotmail.com). 

Até o ano que vem!