segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Crise de Escritor

{Depois de três meses, estou de volta. Mas ainda não sei por quanto tempo. Dedico este texto a minha amiga de Guaianases, Zona Leste de São Paulo, por ter me enchido a paciência semana passada no facebook, me dizendo para escrever algo no blog, sob pena de fazer uma denúncia junto ao PROCON.}

O jornalista está sentado em frente a sua escrivaninha, no escritório que improvisara num cantinho da sala de seu apartamento. Já se acostumara a levar trabalho para casa. Apagou pela terceira vez o texto que havia começado a produzir no computador.

Precisava escrever aquele texto. A ideia inicial estava em sua cabeça, mas ele não conseguia avançar, após concluir o segundo parágrafo. Geralmente, o que costumava lhe ocorrer era ter toda a ideia em mente, mas sentir dificuldades de colocá-las no papel. No entanto, desta vez era diferente. Nem a ideia completa do que iria escrever ele tinha. Então, como prosseguir?

Pergunto agora para quem escreve com frequência, seja por trabalho, por hobbie ou por qualquer outro motivo: você já teve a sensação de que perdeu sua capacidade de escrever?Sinto-me assim agora. E antes de mais nada, preciso definir “agora”. “Agora” compreende um período de tempo de três meses, até o atual momento. Não sei o que acontece nos últimos tempos, mas não consigo escrever.

Quando finalmente consigo produzir algo, fica algo sem graça e incompleto. Olho para minha criação e diferente do que Deus disse para a sua, não acho que tudo é bom. Antes minha cabeça trabalhava a mil, com uma epifania atrás da outra. De certa forma, era como se eu recebesse de outro mundo as ideias que deveria trazer à realidade através das palavras. Não estou dizendo que o que produzo é tão bom que é de outro mundo. Só quero dizer que as ideias jorravam numa intensidade tão grande, que eu perdia grande parte desta produção mental, devido a minha incapacidade de atender à demanda.

No banho, comendo ou deitado, aguardando o sono chegar; caminhando, andando de ônibus ou aguardando numa fila qualquer; em todos esses casos, fico pensando, lembrando, imaginando, viajando rapidamente pelo passado e pelo futuro, juntando tudo e formando algo novo. Aí quando dou por mim, estou com uma história fresquinha na cabeça, só esperando para sair. Inclusive, algumas vezes, gerando-me desconforto, que só passa assim que concluo meu objetivo de trazer à existência real aquilo que só existia no mundo das ideias.

Mas agora, é diferente. Tudo perdeu a cor, perdeu o brilho. Criar uma história fascinante – ainda que apenas do meu ponto de vista – está difícil. Escrever com bom humor, fazer as pessoas rir, também. Olhar o que escrevi e sentir orgulho de ser algo meu, faz tempo que não vivencio essa sensação.

Sinto saudades de quando escrevi "Marlon", "Prieto", "Negócio que Faz Bebês" ou "O Estado". Agora, como explicar a pessoa que eu era quando escrevi esses textos e a pessoa que eu sou hoje, quando não consigo mais igualar o nível de produção anterior? Como explicar o meu estado de espírito naquela época e agora?

Enquanto escrevo este texto, sinto angústias. Até o teclado, antes meu doce companheiro, agora parece estar recheado com concreto. Bater em suas teclas não dá o mesmo prazer, não produzem o mesmo som, requer muito mais esforço. Afinal, o que está acontecendo comigo?