{Depois de três meses, estou de volta. Mas ainda não sei por quanto tempo. Dedico este texto a minha amiga de Guaianases, Zona Leste de São Paulo, por ter me enchido a paciência semana passada no facebook, me dizendo para escrever algo no blog, sob pena de fazer uma denúncia junto ao PROCON.}
O jornalista está sentado em
frente a sua escrivaninha, no escritório que improvisara num cantinho da sala
de seu apartamento. Já se acostumara a levar trabalho para casa. Apagou pela
terceira vez o texto que havia começado a produzir no computador.
Precisava escrever aquele
texto. A ideia inicial estava em sua cabeça, mas ele não conseguia avançar,
após concluir o segundo parágrafo. Geralmente, o que costumava lhe ocorrer era
ter toda a ideia em mente, mas sentir dificuldades de colocá-las no papel. No
entanto, desta vez era diferente. Nem a ideia completa do que iria escrever ele
tinha. Então, como prosseguir?
Pergunto agora para quem
escreve com frequência, seja por trabalho, por hobbie ou por qualquer outro motivo: você já teve a sensação de que
perdeu sua capacidade de escrever?Sinto-me assim agora. E
antes de mais nada, preciso definir “agora”. “Agora” compreende um período de
tempo de três meses, até o atual momento. Não sei o que acontece nos últimos
tempos, mas não consigo escrever.
Quando finalmente consigo
produzir algo, fica algo sem graça e incompleto. Olho para minha criação e
diferente do que Deus disse para a sua, não acho que tudo é bom. Antes minha
cabeça trabalhava a mil, com uma epifania atrás da outra. De certa forma, era
como se eu recebesse de outro mundo as ideias que deveria trazer à realidade
através das palavras. Não estou dizendo que o que produzo é tão bom que é de
outro mundo. Só quero dizer que as ideias jorravam numa intensidade tão grande,
que eu perdia grande parte desta produção mental, devido a minha incapacidade
de atender à demanda.
No banho, comendo ou
deitado, aguardando o sono chegar; caminhando, andando de ônibus ou aguardando
numa fila qualquer; em todos esses casos, fico pensando, lembrando, imaginando,
viajando rapidamente pelo passado e pelo futuro, juntando tudo e formando algo
novo. Aí quando dou por mim, estou com uma história fresquinha na cabeça, só
esperando para sair. Inclusive, algumas vezes, gerando-me desconforto, que só
passa assim que concluo meu objetivo de trazer à existência real aquilo que só
existia no mundo das ideias.
Mas agora, é diferente. Tudo
perdeu a cor, perdeu o brilho. Criar uma história fascinante – ainda que apenas
do meu ponto de vista – está difícil. Escrever com bom humor, fazer as pessoas
rir, também. Olhar o que escrevi e sentir orgulho de ser algo meu, faz tempo
que não vivencio essa sensação.
Sinto saudades de quando
escrevi "Marlon", "Prieto", "Negócio que Faz Bebês" ou "O Estado". Agora, como
explicar a pessoa que eu era quando escrevi esses textos e a pessoa que eu sou
hoje, quando não consigo mais igualar o nível de produção anterior? Como
explicar o meu estado de espírito naquela época e agora?
Enquanto escrevo este texto,
sinto angústias. Até o teclado, antes meu doce companheiro, agora parece estar
recheado com concreto. Bater em suas teclas não dá o mesmo prazer, não produzem
o mesmo som, requer muito mais esforço. Afinal, o que está acontecendo comigo?