Um relato autobiográfico de Marlon, um dos muitos funcionários e colaboradores do blog Pra Gente Rir:
Eu
tenho uma enorme admiração por inúmeros renomados escritores. Algumas pessoas
se idealizam na figura de artistas, outros na figura de jogadores de futebol ou
até mesmo na de heróis dos quadrinhos e do cinema. Já eu me idealizo na figura
de escritores. Inclusive, se eu fosse uma mulher, eu não seria nem
maria-chuteira, nem maria-fumaça, mas sim uma maria-caneta, uma mulher que só
sai e dá para escritores em troca de uns excertos de textos autografados no
bumbum. Aliás, eu idealizo a própria
figura do escritor, imaginando-o como um ser dotado de uma inteligência
superior e uma capacidade ímpar de interpretar o mundo à sua volta. Pode muito
bem ser verdade isso, mas como eu próprio sou escritor – embora não famoso –,
acho que tudo isso não passa de besteiras de minha mente.
Eu
comecei a escrever antes mesmo de aprender a ler. Isso mesmo, eu desenhava as
letras de modo aleatório numa folha, e ia de tempo em tempo perguntando para
minha mãe se eu tinha formado alguma palavra. Após uma extensa combinação de
letras sem sentido, eu finalmente formei a minha primeira palavra, por pura
sorte. Mamãe disse que eu tinha escrito a palavra BOSTA. Curioso, mas não muito
diferente de tudo o que eu vim a escrever depois disso.
Quando
pequeno, por volta de meus 7, 8 anos, já alfabetizado, eu andava com um caderno
para onde quer que eu fosse. Se eu ia brincar com os meus bonequinhos, meu
caderno ia junto; se eu ia jogar bola com os meus primos, o caderno ia também; e
se eu ia assistir desenho animado, era a mesma coisa. Eu costumava anotar
inúmeras coisas no caderninho, desde os resultados dos jogos com os amigos até
o título dos episódios dos desenhos que eu assistia. Eu era tão apegado ao meu
caderninho, que quando eu aprontava alguma coisa em casa, o castigo que mamãe
me dava era de ficar um mês sem mexer no meu caderno. Ah, e como esse tempo
demorava a passar!
É
por isso que eu tenho uma teoria que todo escritor no fundo não passa de um
sujeito estranho tentando dar vazão à confusão que ele carrega dentro de si
através da pena. Sempre que eu não tinha nada para fazer – o que acontecia o
tempo todo, já que eu era filho único e por isso muito sozinho –, eu pegava meu
caderninho. Então eu comecei a escrever minhas historinhas. De início, eram
apenas rascunhos para minhas produções de texto da escola primária, mas logo
fugiu dessa responsabilidade escolar, passando a ser apenas um hobbie. Aventurei-me até na criação de
histórias em quadrinhos, o que foi uma missão frustrante, porque eu sempre
desenhei mal pra caramba.
Continuei
a escrever. Se me perguntarem o que me motivava a escrever, posso apontar duas
possibilidades. A primeira é que o próprio ato de escrever era relaxante e
terapêutico, pois através dele eu externava a minha imaginação fértil, o que
acabava por me motivar. Mas isto dá a ideia de um mecanismo retroalimentador,
onde a escrita torna-se um fim em si mesmo. Então ofereço uma segunda hipótese,
que é a de que minha motivação vinha do sucesso que a história fazia entre
amigos e colegas.
Os
professores sempre elogiaram minha escrita, no entanto tais elogios não foram
tão importantes para minha continuidade no mundo da escrita quanto os elogios
de amigos e colegas. Só que minha escrita sempre enfrentou um grande problema:
o caráter “micro” de minhas histórias. Por caráter micro, eu quero dizer que
minhas histórias sempre penderam para o gênero humorístico, entretanto elas
falavam de acontecimentos muito próximos a mim e as pessoas que leriam os
textos, o que de certa forma gerava um sentimento de pertença em meus
seguidores. Em contrapartida, minhas histórias perdiam o poder de ampla
divulgação, já que muitas pessoas ficariam sem entender as piadas internas
contidas em meus textos.
Popular
entre os amigos e admirado pelos mais próximos, eu provavelmente era tido como
um extraterrestre pelas pessoas mais distantes. Como já disse, eu era estranho,
como a maioria dos escritores também devem ser. Eu sou aquele cara cujo
estômago ronca nas horas mais constrangedoras, sou o cara que peida no trabalho
quando todo mundo sai da sala e de repente percebe que alguém está voltando
para a sala, ficando na torcida para que o flato não tenha cheiro. Sou o cara
que fica na dúvida de como deve cumprimentar a moça que subitamente se
aproximou de seu círculo de amigos e está beijando um por um, e por fim opta por
beijá-la no rosto também, mas acaba acidentalmente beijando a orelha da moça
desconhecida. Sou o cara que vai preencher um formulário de vaga de emprego
qualquer e, na dúvida de como preencher, espia o formulário dos demais
candidatos na tentativa de obter uma luz para seu impasse.
Estou
dizendo tudo isso porque se você lê esse blog e não me conhece pessoalmente,
quero que saiba de uma vez que eu não sou nenhum fenômeno, tampouco sou um cara
normal, mas sim um cara bem anormal, que foi sempre o magrelo e o baixinho da
classe, que usava óculos de fundo de garrafa e tinha a cara repleta de espinhas
– sendo apelidado de Chokito pelos sensíveis colegas de classe –, que era (e
ainda é) super inseguro, que jamais usava o mictório na escola, somente o
banheiro normal com a porta trancada e ainda assim olhando para a divisória
lateral enquanto urinava para ver se ninguém ia espiar, que só deu o seu
primeiro beijo aos 17 anos de idade, e que espera conseguir perder a virgindade
daqui outros dezessete.
Enfim,
o fato é que eu perdi a maioria das minhas primeiras produções literárias com o
passar dos anos. Como eu escrevia em cadernos, muitas foram para o lixo e
provavelmente nem existem mais. O blog Pra Gente Rir serviu de certa forma para
que eu não inutilizasse mais os meus textos, bem como para que eu pudesse,
daqui 30 anos, quem sabe, rever todas as merdas que eu escrevi no passado. A
verdade é que eu sou um desocupado, que não tenho nada para fazer. E já bem
dizia o meu saudoso avô: “Não tem nada pra fazer? Enfia o dedo no cu e cheira”.
Certa vez eu segui o conselho do meu querido avô, mas como também diz o outro
ditado que ele adorava recitar, a mente vazia é oficina do diabo, e escrever e
publicar meus textos na internet foi o jeito que eu achei de demitir o diabo da
minha mente e parar de ver pornografia na grande rede.
Caros
leitores, essa é a história do surgimento do Pra Gente Rir, contada da minha
perspectiva. Talvez não seja a história mais romântica, mais bonita, mais épica
de todas, mas é a minha história. Como já disse, não quero que você me
idealize, achando que eu sou um deus. Não. Eu sou apenas mais um idiota.
P.S.
essa história é baseada em fatos reais. Eu só não vou dizer o quanto da
história que eu acabei de contar é mesmo real. Que isso fique para a sua
imaginação.