sábado, 8 de junho de 2013

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{Este texto não foi muito perspicaz quanto o é a pessoa a quem eu o dedico. Mas mesmo sabendo que não produzi um texto a altura desta pessoa, gostaria de dedicá-lo ao meu amigo andarilho. Muita força, meu querido!}

Aqui perto de onde eu trabalho, tem uma loja que se chama Tem Di Tudo. Se a loja realmente tem de tudo não vem ao caso. Certo dia, uma amiga que trabalha comigo (a Gioconda) me convidou para ir com ela até a Tem Di Tudo para comprar um doce que ela adora. E eu aceitei o convite.

Ao entrar na Tem Di Tudo, não pude deixar de notar que todos os preços curiosamente terminaram com noventa e nove, para meu emputecimento. O doce em questão custava noventa e nove centavos. No entanto, como nem Gioconda, nem eu tínhamos uma moeda de 50, outra de 25, mais duas de 10 e quatro de 4 centavos, fomos obrigados a pagar um real e ficar sem troco algum. Isso mesmo, pois na Tem Di Tudo nem a boa e velha balinha de um centavo não dão.

Sou totalmente contra a balinha como troco, mas também sou contra a filosofia comercial noventaenovesista. Como eu disse, Gioconda adora este doce, é viciada nele, portanto costuma comprá-lo na Tem Di Tudo pelo menos três vezes por semana.

Foi aí que meus conhecimentos matemáticos começaram a entrar em ação. Se Gioconda comprasse um desses doces a cada três dias, após noventa e nove compras ele perderia de ter comprado um centésimo doce, já que este dinheiro teria ficado de graça para a loja nos roubos de um centavo. Mas e se ao invés de comprar um doce por vez, Gioconda passasse a comprar três doces por compra, estocando o restante e voltando a comprar quando estes acabassem? Façamos o calculo: três doces a noventa e nove centavos dá um total de R$2,97. Comprando um doce por vez, minha amiga perderia 3 centavos. Mas comprando três doces ao mesmo tempo, considerando as regras de arredondamento matemático, em que 7 arredonda para 5, minha amiga receberá um troco de 5 centavos. Deste modo, ela não só deixará de ser lesada em três centavos, como passará a se beneficiar em dois centavos a cada compra de três itens de noventa e nove centavos.

Continuando esse raciocínio, Gioconda, após 60 compras desse doce de noventa e nove centavos, teria gasto R$59,40, mas com o roubo dos “uns” centavos, ela teria gasto na realidade sessenta reais. Agora, se ao invés disso, ela comprasse os sessenta doces em vinte compras de três doces cada, veja o cálculo: cada compra de três doces equivale a R$2,97, mas como a loja não dispõe de três moedas de um centavo, ela é obrigada a dar cinco centavos de troco. Então o valor efetivamente pago é de R$2,95, que multiplicado por mais vinte compras iguais equivale a 59 reais. Perceba que, enquanto nas compras individuais o prejuízo é de 60 centavos, nas compras em trio o lucro é de 40 centavos, totalizando uma diferença de 1 real. Então o que seria essa diferença de um real? Simples. Seria um real a mais que oportunizaria a Gioconda comprar mais um doce.

Toda essa discussão pode parecer extremamente boba, uma vez que, seguindo os princípios matemáticos, para a loja, a quantidade de vezes em que ela deixa o cliente no prejuízo e a quantidade de vezes que ela assume o prejuízo se equivalem. No entanto, o cliente tem o poder de deixar o prejuízo SEMPRE do lado da loja. Como? Basta fazer o cálculo do troco, para ver se eles voltarão o troco a mais ou não.

Só de pirraça por ter me irritado com a loja em que todos os preços terminam com noventa e nove (mas que no fim das contas é cobrado o valor arredondado para cima), resolvi fazer este cálculo. Dei essa sugestão para Gioconda e espero que ela siga. Vamos todos fazer isso e quebrar as milhares de Tem Di Tudo espalhadas pelo Brasil!



Minha gratidão a Gioconda da vida real, que me propiciou esta reflexão na verdadeira Tem Di Tudo, inspirando-me a escrever este textículo. Agradeço também a minha outra amiga, carinhosamente chamada de "Filha da Ciência", por ter sugerido o título para esta produção.