sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Chaves

Faz alguns meses que decidi escrever um texto sobre o seriado Chaves no meu blog. Mas, devido à correria do dia-a-dia, ao cansaço e até mesmo à preguiça, acabei procrastinando, e por fim desistindo. Hoje, recebi a triste notícia da morte de Roberto Gómez Bolaños, o Chespirito, Pequeno Shakespeare, apelido dado a ele por conhecidos, devido a sua genialidade.

Ele partiu hoje, depois de uma vida extremamente produtiva, deixando sua marca por onde passou. A eternidade física é uma ilusão, mas acredito que Bolaños alcançou a imortalidade em seus personagens, pois sua obra continuará viva em minha lembrança e em meu coração.

Em homenagem a esse brilhante mexicano, que conquistou muita gente com a sua obra e com seus personagens, decidi que devia ressuscitar essa publicação. Se eu puder ter só um pouquinho daquele talento para fazer esta homenagem, já me sentirei realizado.

Obrigado, Chespirito!





CHAVES

Sou um fã da obra de Roberto Gómez Bolaños. Mesmo sabendo todas as falas de antemão e já conhecendo as piadas manjadas dos episódios, ainda sou capaz de me deliciar assistindo Chaves, Chapolin, Dr. Chapatin, Chaveco, Don Caveira e Pancada Bonaparte. Tenho uma sensação de paz quando estou vendo um episódio do Chespirito.

Na internet, a série Chaves é alvo de inúmeras discussões. Discussões estas que envolvem acontecimentos ao longo dos episódios, como erros de gravações que foram ao ar, incongruências entre informações dos personagens, traduções brasileiras e muitas outras curiosidades. São inúmeros os fóruns de discussão sobre esses temas. E a seguir, tentarei trazer a minha contribuição sobre alguns fatos (que considero) curiosos relacionados à série. Afinal, acho que são esses debates levantados que geram todo o imaginário que permeia Chaves e faz dela uma série que vem atravessando gerações e fazendo parte da infância de milhões de pessoas.

Então, passemos as curiosidades.



1 – O filme do Pelé

Quem não se lembra do episódio Vamos ao Cinema, em que toda a turma da vila vai pegar um filminho? Fora o microfone que acidentalmente aparece nas cenas do cinema, eu quero destacar outro fato desse episódio. Se eu perguntar para várias pessoas o que tem de mais marcante no episódio, provavelmente ouvirei delas que é o Chaves resmungando diversas vezes a frase “seria melhor ter ido ver o filme do Pelé”. Fiquei me questionando, qual seria esse filme do Pelé que O Menino do Oito se referia nesse episódio. Não cheguei a uma resposta, mas descobri algumas coisas interessantes.

A primeira delas, é que no episódio original, o qual assisti para escrever este post, o Chaves não faz nenhuma alusão ao Rei do Futebol, o que seria bem estranho mesmo, já que a série é mexicana. O filme que ele cita é outro. Na versão original, o Chaves refere-se ao filme El Chanfle. Pra quem não sabe, El Chanfle é um filme estrelado pelo mesmo elenco que compõe o seriado Chaves. Como se sabe, Chespirito tinha esse hábito mesmo de entrelaçar suas obras, umas nas outras. Quem não se lembra do Seu Madruga lendo o gibizinho do Chapolin Colorado? Portanto, o filme citado na versão original, nada mais é do que o próprio filme escrito e estrelado Bolaños.

A segunda descoberta interessante diz respeito ao próprio Pelé. Pra quem não sabe, o Edson já atacou de ator também, produzindo algumas pérolas no cinema nacional e internacional. Dentre elas, Edson participou de um filme brasileiro, Pedro Mico, mas por algum motivo, teve sua voz dublada pelo Milton Gonçalves. Será que ele é tão ruim ator assim?

Outra pérola do Edson é no filme Os Trombadinhas, em que ele fez uma cena que quase lhe rendeu o Óscar de Melhor Ex-Jogador de Futebol em Longa-Metragem. A cena a qual eu me refiro pode ser visualizada clicando aqui.

Bom, mas estou me desviando do objetivo desse texto para curiosidades sobre o Pelé. Voltemos ao tema principal do texto. Conjecturas à parte, não se sabe o que se passava na cabeça da galera do estúdio de dublagem da série no Brasil, quando decidiu citar o filme do Pelé no episódio do cinema. Provavelmente, jamais saberemos qual era o filme do Pelé que o Chaves preferia ter ido ver. O que sabemos, é que se todos os filmes do Pelé são um lixo, misericórdia do filme que eles estavam assistindo naquele cinema...



2 – A esquina

Já repararam na quantidade de pontos comerciais que ficam na esquina da Vila? A barbearia onde o Seu Madruga trabalhou ficava na esquina. O tão sonhado sanduíche de presunto que o Chaves queria comprar ficava na esquina. E o restaurante que a Dona Florinda assumiu ficava onde? Adivinhe? Se você respondeu “na esquina”, você acertou!

Além disso, a esquina também já abrigou um terreno baldio, que foi mostrado no episódio em que as crianças iam lá jogar futebol (não o nosso, mas o americano). Não se sabe se o terreno baldio fica na mesma esquina ou em outra, mas é provável que fique em outra.

Essa quantidade de pontos comerciais na esquina me levou a pensar no quão ruim é aquele ponto comercial. E em como o poder público investe pouco no comerciante. Devem ter feito uma mandinga das bravas naquele lugar, quem sabe a Bruxa do 71 não lançou um feitiço no antigo proprietário do imóvel, por não corresponder ao seu amor platônico? Estava bom de chamar um padre pra exorcizar aquele lugar, quem sabe até com o mesmo padre que ouviu a confissão do Chaves quando ele foi embora da vila por acharem que ele era um ladrão.



3 – Que Bonita Sua Roupa

No episódio Uma Aula de Canto, foi cantada uma das músicas mais famosas do Chaves, Que Bonita Sua Roupa. Sobre esta música, é interessante, em primeiro lugar, identificar que na versão mexicana, o título da música é Que Bonita Vecindad. Vecindad é uma palavra espanhola que pode ser traduzida como vizinhança. Mas a vizinhança em português virou “sua roupa”. Mais uma salva de palmas para os tradutores do seriado.

A coreografia da música é tão simples, que não precisa ser nenhum Michael Jackson para replicá-la, nem a ajuda do coreógrafo Fly. Entretanto, um possível erro na dança do pessoal da Vila é discutido até hoje. Tal erro é discutido, para saber de quem seria a culpa, e o que de fato teria acontecido no momento da gravação. Clique aqui para assistir ao clipe e acompanhar a discussão a seguir.

Com 1:30, Seu Madruga ri olhando em direção aos bastidores, movimento uma das mãos e dando um passo, como se deixando de dançar. A seguir, ele volta a coreografia. Entretanto, alguns segundos antes, pode-se perceber que os pulos do Mestre Linguiça estão dessincronizados em relação aos pulos dos demais personagens. Os defensores de Don Ramón o eximem de culpa nisso, atribuindo-a a Ruben Aguirre, o Professores Jirafales. Apesar do possível erro na coreografia, o episódio foi ao ar desse jeito, para curiosidade geral. E a maior curiosidade de todas consiste no fato de haver pessoas discutindo esse tema até hoje.



4 – Números estranhos

Mesmo Chaves tendo mais de mil episódios, incluindo esquetes, em todos os episódios em que Seu Madruga participa, sua dívida de aluguel com o Seu Barriga continua a mesma: 14 meses de aluguel. Seu Madruga jamais ficou devendo 13 ou 15 meses. Lembrem-se ainda que, num episódio, o Seu Madruga paga pelo menos um mês de aluguel. Mas ele continua devendo quartorze.

E por falar em quatorze, esse é o número da casa da Dona Florinda. O número da casa da Dona Clotilde é 71 e a da casa do Seu Madruga é 72. Qual é a lógica da numeração das casas na Vila? E será que podemos dizer que na Vila tem pelo menos 72 casas? Além das três casas em maior evidência, sabe-se ainda que tem a número 8, onde mora o Chaves, a 24, que fica subindo as escadas ao lado do barril do Chaves, onde já moraram Glória e Paty, mas também Jaiminho e Chiquinha, nas últimas temporadas. Só que, no Festival da Boa Vizinhança, os expectadores do espetáculo dirigido por Seu Madruga não chega a 20 gatos pingados (incluindo o Seu Barriga e o Mestre Linguiça, que nem ali moram).



5 – Seu Madruga

O Seu Madruga já deixou bem claro que não suporta ser acordado às 11 da madrugada. Aliás, porque Don Ramón em português ficou Seu Madruga?

Voltando a ideia inicial, todo mundo fala que o Seu Madruga é vagabundo, que não é muito dado ao trabalho, que é caloteiro, não paga o aluguel. Contudo, ele trabalhou num extenso hall de profissões que daria inveja em muita gente. Já vi o Seu Madruga trabalhando de marceneiro, barbeiro, pedreiro, jardineiro, boxeador, fotógrafo, professor de violão, vendedor de balões, vendedor de churros, terapeuta (conselheiro sentimental do Jirafales) além de já ter sido eventualmente diretor de Festival da Boa Vizinhança e de ter dado uma aula para a turminha que deixou a metodologia pedagógica do Professor Jirafales no chinelo.

Além de todos esses trabalhos, o Seu Madruga é um exemplo de homem, que disse algumas das frases que marcaram minha infância. Posso dizer que ele foi o primeiro filósofo que entrei em contato na minha vida. Encerro esta sessão com algumas de suas célebres frases:

A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena.

As pessoas boas devem amar seus inimigos.

Não existe trabalho ruim. O ruim é ter que trabalhar.



6 – A menina da escola

Num dos episódios que se passam na escola, um acontecimento muito estranho ainda me deixa com muitas dúvidas (link). Vou me limitar a descrever as falas da versão brasileira, embora haja diferença para a versão mexicana. O Professor Jirafales pergunta para a classe se alguém pode dizer o nome de tribos brasileiras. Uma menina, até então figurante, responde “os tamoios”. Todos olham espantados para ela. Logo em seguida, ela acrescenta: “posso ir ao banheiro?”. E o Professor Jirafales responde: “sim, Iara, sim”. E eis que a menina, após dizer essas seis palavras, levanta-se e sai da sala. E nunca mais aparece na série, em nenhum outro episódio.

Mais estranho ainda é o burburinho que fica na sala após a saída dela, principalmente a fala da Pópis, que diz, com sua voz fanha: “ih, menina, você viu? Eu nunca vi um negócio desses, que temperamental, hein? Você viu só? E se fosse eu o professor ia dar uma tremenda bronca”. Completamente sem sentido. A única coisa que consegui apurar sobre esta cena, é que a atriz que interpretou Iara foi Angélica María.



Concluindo...

Eu tenho muita coisa pra falar ainda, como as referência épicas na versão brasileira a Pedro de Lara, Maitê Proença e muitas outras. Mas isso vai ficar, quem sabe, para outra oportunidade. Essas curiosidades foram inspiradas em minha própria experiência com a série. Algumas coisas foram inspiradas no vídeo do Danilo Gentili sobre o Chaves, embora outras, que são parecidas, foram mera coincidência. É com um sentimento de tristeza, mas também de profundo carinho por tudo o que Chespirito produziu e chegou até mim, que encerro esta postagem.





segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Perguntas Frequentes

Todas as vezes que eu vou para Piraju nas férias, eu sou obrigado a ouvir várias perguntas repetidas, e respondo várias vezes cada uma delas, para diferentes pessoas que visito quando estou por lá. E em todas as férias, são praticamente as mesmas santas perguntas. Pensando nisso, com o intuito de evitar de ter que responder as mesmas perguntas sempre que eu for para Piraju, e em todas as casas e famílias que eu for visitar, eu decidi criar um panfleto informativo, o qual distribuirei para todas as pessoas assim que eu chegar em suas respectivas casas¹.

A ideia é que cada vez que eu viajar para A Ilha, eu atualizarei as respostas (no caso de algum dado ter ser tornado obsoleto), mudando o design do panfleto, de modo a parecer que consiste num panfleto totalmente novo, com perguntas e respostas diferentes.

A seguir, apresento o modelo que estou pensando em utilizar para o meu panfleto informativo, com alguns comentários a serem apresentados no final deste texto:

FAQ – Perguntas Frequentes

Pergunta: E aí, como que tá Brasília?
Resposta: A mesma bosta de sempre.

Pergunta: E cê já viu a Dilma pessoalmente?
Resposta: Vejo a Dilma pessoalmente com a mesma frequência que você a vê pessoalmente.

Pergunta: E o custo de vida lá de Brasília? Eu fiquei sabendo que é alto...
Resposta: Sim, o custo é bem alto. Mas não sei se “de vida” é a melhor locução adjetiva a ser utilizada nesse contexto, porque aquilo lá não é vida, não!

Pergunta: É, eu ouvi na "rádia" que a cidade lá é bem perigosa e violenta, é verdade isso? Não sei se você sabe, mas Piraju anda bem violenta também...
Resposta: NÃO, você não faz ideia do que é uma cidade perigosa. Eu vou te contar um segredo: PIRAJU NÃO É UMA CIDADE PERIGOSA! Você realmente quer acreditar que os perigos aos quais os brasilienses e os pirajuenses estão suscetíveis se equiparam em magnitude, MAS ELES NÃO SE EQUIPARAM! Tire essa ideia ridícula da sua cabeça, porque isso me ofende profundamente, principalmente quando me lembro dos cagaços que eu frequentemente passo em Brasília. Aposto que você não passa nem um décimo aqui em Piraju, do que eu passo lá no Distrito Federal.

Pergunta: E como que tão os estudos lá?
Resposta: Vão bem, está corrido, mas tá tudo bem.

Pergunta: Quanto tempo que falta pr’ocê se formar?
Resposta: Não sei também, boa pergunta...

Pergunta: Ué, mas cê tá em qual semestre?
Resposta: Cronologicamente, no sexto. Curricularmente, mais ou menos no quarto. Mentalmente (devido ao cansaço), no vigésimo.

Pergunta: E o que que cê tá fazendo mesmo?
Resposta: Eu faço Psicologia.

Pergunta: Ah, então... cê que é psicólogo, me tira uma dúvida...²
Resposta: Primeiro, eu não sou psicólogo, eu apenas faço faculdade de Psicologia, o que não significa que eu saiba alguma coisa sobre os seres humanos.

Pergunta: E quando cê se formar, cê vai abrir um consultório? Vai dar desconto pros parentes? (risos)
Resposta: Olha, sinceramente, eu não pretendo abrir consultório, não.

Pergunta: Ué, então pra que que cê tá estudando Psicologia?
Resposta: Boa pergunta...

Pergunta: E cê pretende trabalhar como psicólogo mesmo, ou como psiquiatra?
Resposta: Só psicólogo, eu faço Psicologia. PSI-CO-LO-GI-A. A Psiquiatria é uma especialidade da Medicina, portanto, só quem faz Medicina pode se especializar nessa área.

Pergunta: Viu, e são quantas horas de viagem de Brasília até aqui?
Resposta: São 15 horas até Ouro Pequeno³. De lá eu ainda tenho que pegar outro ônibus para Piraju.

Pergunta: E a namorada? Quando que cê vai trazer ela pra gente conhecer?
Resposta: Quando der.

Pergunta: E por que que ela não veio dessa vez?
Resposta: Porque não deu.

Pergunta: E esse cabelo e essa barba? Quanto tempo faz que cê não corta?
Resposta: O cabelo, uns cinco anos. A barba, cinco meses.

Pergunta: E por que que cê num corta? Cê fez promessa?
Resposta: Não sei também. Não, eu não fiz promessa.

Pergunta: E até quando que cê vai ficar por aqui?²+²
Resposta: Até a primeira semana do mês que vem, porque logo depois começam as aulas.

Pergunta: E como é o seu nome mesmo?
Resposta: ¬¬”


¹ Quero deixar bem claro que não estou culpando as pessoas por perguntarem sempre as mesmas coisas. Essa é uma curiosidade típica da natureza humana, e é meio óbvio que, dada a minha história de vida, as perguntas seguirão mais ou menos o mesmo caminho. Meu objetivo é simplesmente fazer uma piada com este fato um pouco incômodo – mas tolerável – da minha vida.
² As reticências indicam que o que importa aqui é este típico começo, que mostra que a pessoa pretende fazer uma pequena “consulta” comigo, achando que os meus três anos de faculdade são suficientes para eu sanar alguma curiosidade que ela tem.
³ Ouro Pequeno é a carinhosa nomenclatura que um amigo meu deu para a cidade de Ourinhos, onde ele vive. É a ela que eu faço alusão nessa resposta.
²+² Existe uma variação dessa pergunta, essa sim muito mais ofensiva: “E quando que cê vai embora?”. Nesta variação, percebe-se claramente que meu interlocutor demonstra certa nota de urgência de ver Piraju livre da minha impertinente presença.